Título: Divergências sobre cúpula opõem mais uma vez França à Alemanha
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2011, Economia, p. B7

Objetivo da reunião seria discutir o novo plano de socorro, de 100 bilhões de euros, à Grécia; incerteza alimenta especulação

O caos na coordenação política e econômica da União Europeia (UE) chegou ao ápice nesta semana. Nos últimos dois dias, diplomatas discutem em Bruxelas se é necessário ou não realizar uma reunião extraordinária para discutir o novo plano de socorro à Grécia, estimado em ? 100 bilhões.

As divergências mais uma vez opõem Alemanha, que dispensa o encontro, à França, autora da proposta. O objetivo da cúpula seria definir se haverá ou não um calote parcial do governo da Grécia.

A estratégia europeia beira o absurdo: para evitar o vexame de não alcançar um acordo, os diplomatas hesitam em marcar a reunião. O resultado é mais incerteza, que alimenta a especulação contra os títulos públicos de Grécia, Irlanda, Portugal, Itália e Espanha nos mercados financeiros.

Sobre as negociações, a UE está quebrada ao meio. De um lado, Alemanha, Holanda e Finlândia defendem um calote parcial e programado da Grécia, com reescalonamento da dívida. De outro, França, seguida por Itália, Espanha e os demais europeus, com apoio incondicional do Banco Central Europeu (BCE), recusa a ideia de calote, temendo um contágio generalizado da crise. A alternativa proposta pelos franceses é a "colaboração voluntária" dos bancos, seguradoras e fundos de investimentos privados que tenham títulos da dívida grega.

"Sem pânico". Diante do impasse, as autoridades da Alemanha e da França se dividiram mais uma vez sobre a realização da cúpula extraordinária. "O importante é que os trabalhos sobre a Grécia continuem em um ritmo constante pelos ministros de Finanças", argumentou ontem o porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel.

Segundo a chancelaria, as negociações devem continuar "intensamente, mas sem pânico", já que Atenas poderia honrar suas dívidas até meados de setembro. A Alemanha, disse o porta-voz, considera "interessante" a opção de uma reestruturação radical da dívida grega - ou seja, o calote.

Em Paris, por outro lado, a opção é descartada. O governo de Nicolas Sarkozy seguia trabalhando ontem por uma cúpula extraordinária. "Nada está definido, mas há uma vontade clara de todos os parceiros do Eurogrupo (fórum de ministros de Finanças da UE) de chegar à solução mais eficaz o mais rapidamente possível", assegurou Valérie Pécresse, ministra do Orçamento.

Apesar da indefinição, os mercados tiveram o segundo dia consecutivo de calmaria. As bolsas de Londres, Paris e Frankfurt fecharam ontem com ligeiras altas de 0,64%, 0,51% e 1,31%, respectivamente. / A.N. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS