Título: Moody's ameaça baixar nota dos EUA
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2011, Economia, p. B7

Agência de classificação de risco colocou em revisão o rating do país e pode rebaixá-lo se não houver aumento no limite de endividamento

A agência de classificação de risco Moody"s anunciou ontem à noite ter colocado em revisão para potencial rebaixamento o rating soberano dos Estados Unidos - atualmente em Aaa, a classificação máxima. Em nota, a Moody"s citou como motivo a possibilidade de o limite de endividamento do governo federal americano não ser elevado em momento oportuno e, dessa forma, levar o país a declarar calote em suas obrigações de dívidas.

O anúncio foi feito no mesmo dia em que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, deu sinais de uma possível retomada de medidas de expansão monetária como meio de estimular o crescimento mais robusto da economia.

Em audiência no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados, Bernanke avaliou que a atividade americana está sujeita a "pressões temporárias", mas previu melhores resultados dos indicadores de inflação e da atividade nos próximos meses. A adoção de medidas monetárias, sugeriu ele, não é "iminente". "Todas as opções continuam sobre a mesa", disse, após questionado sobre a possibilidade de um terceiro programa de expansão monetária.

As agências de classificação de risco têm como ganha-pão a concessão de ratings - ou classificações - a empresas, governos ou qualquer entidade que emita títulos negociados no mercado. Essas classificações são a opinião da agência sobre a capacidade do emissor desses títulos de honrar seus compromissos com os investidores.

A Moody"s informou que também colocou os ratings de instituições financeiras diretamente ligadas ao governo dos EUA em revisão para potencial rebaixamento. Entre elas, estão a Fannie Mae e a Freddie Mac. "A revisão no rating dos bônus do governo dos EUA foi provocada pela possibilidade de o teto de endividamento não ser elevado a tempo de evitar a ausência de pagamento dos juros ou do principal de bônus e notas pendentes. Portanto, há um pequeno, porém crescente, risco de um default de vida curta", disse a agência.

De acordo com o comunicado, um calote dos EUA, independentemente da duração, alteraria a avaliação que a Moody"s possui sobre a pontualidade nos pagamentos relacionados às dívidas do país e impediria que a agência mantivesse o rating em Aaa. O texto informa também que, como um eventual calote seria curto e a perda estimada para os investidores mínima, a redução no rating seria para algum lugar perto na faixa de Aa.

Alerta. Para Jeffrey Goldstein, subsecretário de finanças domésticas do Departamento do Tesouro americano, o alerta da agência é um "lembrete oportuno" para o Congresso elevar o limite de endividamento do governo federal.

A Moody"s também disse que bônus emitidos pelos governos de Israel e Egito, tendo como garantidor o governo dos EUA também tiveram seus ratings colocados em revisão para potencial rebaixamento.

Em abril, a Standard & Poor"s havia reafirmado o rating de crédito soberano de longo prazo Aaa dos EUA e anunciado que reduziu a perspectiva da classificação de estável para negativa. "Mais de dois anos depois do começo da crise, os formadores de política dos EUA ainda não chegaram a um acordo sobre como reverter a recente deterioração fiscal ou solucionar as pressões fiscais de longo prazo", disse na ocasião Nikola Swann, analista de crédito da S&P.

A analista explicou ainda que a perspectiva negativa atribuída ao rating dos EUA sinalizava que a agência acreditava que há pelo menos uma chance em três de que o rating de longo prazo do país pudesse ser rebaixado dentro de dois anos.

Mais medidas. A posição de Bernanke em relação a uma possível retomada das medidas de expansão monetária surpreendeu pelo fato de, entre 21 e 22 de junho, o Comitê de Mercado Aberto do Fed (Fomc, na sigla em inglês) ter determinado o fim do segundo mecanismo de estímulo à economia, como previsto inicialmente.

Nos seis meses de execução, esse programa permitiu a injeção de US$ 600 bilhões, por meio da recompra de títulos do Tesouro. Na primeira versão, entre novembro de 2008 e março de 2010, o chamado Quantitative Easing (QE, afrouxo quantitativo) injetou US$ 1,7 bilhão.

A iniciativa vinha sendo duramente criticada desde o fim de 2010 por alimentar os fluxos de capitais para países emergentes, provocando a valorização de suas moedas, sem produzir os resultados imaginados na economia americana.

Dívida. Em um apelo ao Congresso, Bernanke defendeu a elevação do teto para a dívida pública, hoje em US$ 14,3 trilhões, e a definição de orçamentos capazes de reduzi-la, sem dramáticos cortes em gastos públicos. Indiretamente, com isso, defendeu a elevação de tributos.

No discurso, Bernanke alinhou-se à Casa Branca e chegou até a reproduzir parte do discurso do presidente Barack Obama contra a redução de despesas nas áreas social e de previdência. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS