Título: Financiamento do crescimento e transparência
Autor: Oscar, Naiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2011, Newgócios, p. B12

A proposta de fusão envolvendo o Pão de Açúcar e o Carrefour trouxe à tona a discussão sobre o papel do BNDES, haja vista o banco ter cogitado participar do projeto de internacionalização do grupo brasileiro.

Nesse debate, as perguntas mais frequentes dizem respeito à adequação do BNDES enquanto indutor da formação de grandes grupos privados nacionais e aos resultados dessa ação.

Cabe observar, inicialmente, que bancos de desenvolvimento, por definição, são instituições voltadas para apoiar o desenvolvimento econômico nacional. A necessidade de tais instituições decorre em grande medida do fato de que os países em desenvolvimento necessitam de grandes aportes de capital para apoiar seu processo de industrialização em função da escassez de poupança; e de fontes estáveis de financiamento de longo prazo a custos adequados para apoiar o investimento privado, notadamente aquele voltado para a inovação.

Dessa forma, atuariam ofertando crédito a termos compatíveis com o investimento de longo prazo no montante requerido para apoiar o desenvolvimento econômico.

Deve-se notar que tais investimentos, se fossem financiados pelo setor bancário privado, provavelmente teriam custos e prazos incompatíveis com a natureza dos mesmos, o que os inviabilizaria.

Essa concepção do papel/missão dos bancos de desenvolvimento naturalmente requer que a análise de risco relativa a tais projetos de investimento seja distinta daquela que orienta instituições privadas, especialmente pelo fato de, tipicamente, não serem autorizados a receber depósitos à vista ou a prazo e, como tal, não operarem alavancados.

A maior liberdade em definir o risco das operações apoiadas não deve implicar, contudo, menor transparência quanto a seus critérios de escolha relativamente aos tomadores que serão selecionados, bem como a setores que eventualmente venham a ser priorizados.

Assim, se a sociedade decide que os bancos de desenvolvimento devem participar ativamente da execução da política industrial do país, os mesmos, juntamente com o governo, devem indicar claramente os critérios que orientam suas decisões. É com base nesses critérios que deve ser analisada quão adequada é sua atuação.

É PROFESSOR DA ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS (EBAPE/FGV)