Título: Após retirada de proposta, Carrefour estuda novos projetos de fusão no País
Autor: Oscar, Naiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2011, Newgócios, p. B12
O presidente mundial da rede, Lars Olofsson, enviará nos próximos dias um comunicado aos executivos brasileiros da rede para reafirmar que está aberto a acordos de sociedade que possam acelerar o crescimento da operação
Depois de ver fracassadas as negociações de fusão com o Grupo Pão de Açúcar, o Carrefour já dá sinais de que procura uma nova saída para sua operação no Brasil. Ontem, em uma conferência com analistas, o diretor financeiro do grupo francês, Pierre Bouchut, disse que a companhia pode estudar uma nova proposta de fusão no País se fossem apresentados outros mecanismos de financiamento.
No dia seguinte à sequência de comunicados que deram fim à polêmica proposta de Abilio Diniz para unir as operações do Grupo Pão de Açúcar com o Carrefour, o presidente mundial da varejista francesa começou a preparar uma mensagem aos funcionários da subsidiária brasileira afirmando que acredita na operação local e que está comprometido com o negócio. Segundo fontes do Carrefour, o presidente mundial da rede, Lars Olofsson, deve afirmar que a empresa não tem a intenção de deixar o mercado brasileiro - porém, está aberta a acordos de sociedade que possam acelerar o crescimento da operação.
Durante a apresentação de resultados, o diretor financeiro fez questão de comparar o desempenho da rede em alguns países da Europa com a operação brasileira. No segundo trimestre deste ano, as vendas globais do Carrefour aumentaram 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado. No Brasil, onde a rede tem seu segundo maior mercado, o crescimento foi de 11,3%.
Questionado sobre o fim das negociações com o Pão de Açúcar, Bouchut disse que "as condições necessárias para a conclusão da proposta não foram atingidas". E mesmo com a sensação generalizada no mercado de que a proposta não tem mais qualquer chance de ir para frente, o executivo reforçou: "Se por alguma razão o Gama vier com uma nova proposta, nossos conselhos podem decidir se reunir novamente."
Chegou a se especular no Brasil que o Carrefour tentaria salvar a proposta de fusão negociando diretamente com o conterrâneo Casino - sócio de Abilio no Pão de Açúcar e personagem que definiu, na manhã de terça, o rumo das negociações. O BTG Pactual, responsável por reunir os investidores interessados na fusão, estaria ao lado do Carrefour nessa jogada. Ontem à noite, no entanto, o banco confirmou que não pretende procurar o Casino para retomar a negociação.
Na contagem regressiva para assumir o controle do Grupo Pão de Açúcar em julho de 2012, como prevê o acordo de acionistas firmado em 2005, o Casino está decidido a não levar nenhuma parceria com o Carrefour adiante. "Esse projeto está morto, entrando no caixão, e será enterrado", disse fonte próxima ao Casino. "Não importa quem serão os investidores e de onde vem o dinheiro porque a companhia está convicta de que o Carrefour não é um bom negócio."
O Casino deixou isso claro na reunião em que o conselho de administração recusou por unanimidade a proposta de fusão. Em comunicado, o grupo disse que o negócio é "contrário aos interesses" dos acionistas.
Futuro. Fontes próximas ao Casino a dizem que os acontecimentos dos últimos dois meses não farão a empresa mudar de posição em relação ao Grupo Pão de Açúcar. Isso significa dizer que a operação continuará sob administração de executivos brasileiros e que o acordo de acionistas será mantido.
Do lado de Abilio, as declarações continuam sendo em defesa da fusão e num tom de que ela pode voltar à mesa de negociação no futuro. "Estamos convictos de que o projeto é fora de série", disse Pércio de Souza, sócio da consultoria financeira Estáter, que está por trás dos negócios de Abilio.
"Este é o momento para acalmar os ânimos, analisar tudo, ver se o Casino esfria a cabeça." Mas, segundo ele, quem deve retomar o debate e aprofundá-lo é o próprio Abilio. / COLABORARAM MELINA COSTA E PATRÍCIA CANÇADO