Título: Preço dos supérfluos puxa alta da inflação
Autor: Simão, Edna
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2011, Economia, p. B5

A ascensão das classes C e D tem estimulado a formação de um novo perfil de consumidor. Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito a pedido da Agência Estado, mostra que a evolução dos preços de serviços não prioritários no orçamento familiar, como espetáculos, salão de beleza e academia de ginástica, já representa uma alta acumulada de 9,24% em 12 meses até junho no Índice de Preços ao Consumidor (IPC-BR).

O recorte da FGV mostra que serviços que podem ser denominados de "supérfluos" - uma novidade no orçamento da população de renda mais baixa - são responsáveis pela maior parte do incremento dos preços no segmento.

No IPC-BR, os preços dos serviços não comercializáveis, que incluem despesas com médicos e funerárias, por exemplo, acumulam alta de 8,5%, enquanto a inflação varejista média, pelo mesmo indicador, é de 6,40%.

Em paralelo, no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, que baliza as metas de inflação do governo, o acumulado em 12 meses da inflação de serviços no período é de 8,7%. Analistas alertam que a inflação dos supérfluos só tende a crescer nos próximos anos, capitaneada por renda em alta e crédito ainda elevado.

Para o economista e professor das faculdades Ibmec Felipe Lacerda, essa é uma consequência da renda em alta e da maior criação de vagas formais na economia. Ele lembra que, desde abril de 2008, o IBGE tem apurado massa de renda média real habitual dos trabalhadores acima de R$ 30 milhões. Entre 2002 e 2008, esse valor oscilava na faixa dos R$ 20 milhões. "Além dos salários, ainda temos a oferta de crédito, cuja demanda está forte", lembrou.

O economista da FGV André Braz selecionou 16 serviços pesquisados pelo IPC-BR que são mais atrelados à recreação, estética, ou terceirização das atividades domésticas. Essas atividades, segundo avalia, serão fonte constante de pressão na inflação do varejo, já que a demanda não dá mostras de arrefecimento. "Os consumidores que eram de classes mais baixas estão incorporando em seu orçamento serviços aos quais antes não tinham acesso. E esses serviços são uma tentação de consumo", comentou.

No detalhamento, é fácil constatar como a chamada "nova classe média" brasileira vem alimentando a inflação.

Muitos preços de serviços já apresentam alta de dois dígitos em 12 meses, como teatro (11,12%); alfaiate e costureira (10,98%); clube de recreação (10,75%); hotel (12,83%); passagem aérea (13,71%). Também sobem forte gastos com empregados domésticos (7,11%) e salão de beleza (9,90%).