Título: Para analistas, objetivos da política são contraditórios
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2011, Economia, p. B5

Proximidade entre o Banco Central e o Ministério da Fazenda é elogiada por alguns e criticada por outros

A maior proximidade entre Banco Central (BC) e Ministério da Fazenda é celebrada por alguns e vista com ceticismo por outros. "É um bom sinal", afirmou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. "O alinhamento entre os dois é ruim, porque ambos dão mais peso para o crescimento e, com isso, a inflação está fugindo do controle", discorda a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli.

Gonçalves acredita que a origem do alinhamento entre as duas instituições está na presidente Dilma Rousseff, "que define com os dois (Guido Mantega e Alexandre Tombini)" o que quer para a área econômica. "Não vemos mais reportagens de bastidores às vésperas de reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do BC, que define a taxa básica de juros) em que um lado critica o outro. E isso é positivo."

Maristella faz coro a vários de seus colegas de mercado segundo os quais BC e Fazenda estão errados na forma como escolheram lidar com a inflação. "Está difícil perseguir os dois objetivos que o governo quer: crescimento de no mínimo 4% e inflação na meta", argumentou. "Ninguém quer ver a economia no buraco, mas o ritmo de desaceleração da atividade está muito lento e vai ser cada vez mais custoso trazer a inflação de volta para o centro da meta (4,5%)."

Sobre um possível veto à contratação de profissionais do mercado financeiro para a direção do BC, Gonçalves afirma que, "se existe, deveria ser justificado pelo governo". "Não vejo explicação para isso, uma vez que é importante que a diretoria tenha tanto gente do mercado quanto do setor público", observa. Ele lembra, também, que há rumores de que profissionais de mercado não teriam aceitado trabalhar no BC de Tombini por temerem a interferência da Fazenda. "Se existe isso, também é um exagero", observa.

Carreira. Alguns acadêmicos acreditam que a composição atual da diretoria do BC, sem profissionais egressos do setor privado, é a ideal. Está nesse time o professor Ricardo Carneiro, diretor do Centro de Estudos de Política Econômica da Unicamp. Para ele, "algumas carreiras técnicas do governo devem ter os cargos de direção preenchidos por funcionários de carreira da instituição".

Carneiro cita como exemplos dessa lógica o próprio Banco Central, a Receita Federal, o Itamaraty e as Forças Armadas. "O problema ocorre quando o dirigente do BC volta para o mercado financeiro, pois carrega com ele uma série de informações e estratégias do serviço público e pode utilizá-las para ganhar dinheiro."

Na avaliação de outros especialistas, a participação no setor público de profissionais formados no setor privado não é um pecado.

"Há vários exemplos de diretores e presidentes do BC que vieram do setor privado e desempenharam ótimo papel em suas funções", afirmou o professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo.