Título: Empresa virou símbolo da cidade
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2011, Economia, p. B4

VIDEIRA (SC)

Na cozinha da aposentada Salete Maria Strepazzan Fiorelli, de 60 anos, só entram produtos da Perdigão e ela não admite outra marca. Na sexta-feira, ela foi com a cunhada Rosinha Argento Stepazzan na lojinha da empresa, ao lado da fábrica, na tentativa de saber até quando poderia dispor do salame e outros embutidos vendidos ali. Mas os funcionários não sabiam o que dizer.

"Estou desesperada, pois adoro tudo o que é da Perdigão. Trabalhei lá dentro de 1965 a 1970 e sei como é feito. Naquela época não admitiam mulheres casadas e, como marquei casamento, tive de sair." Ela conta que o presunto, o bacon e as codornas da marca têm um sabor especial. "Não tem igual, não sei o que vou fazer. Deviam manter a marca pelo menos aqui."

Moradores que praticamente cresceram dentro da empresa manifestaram tristeza e preocupação com o acordo. Para o médico veterinário aposentado Vitor Hugo Brandalise, sobrinho do sócio fundador da Perdigão, Saul Brandalise, a Perdigão pagou a conta da fusão, mas quem ganhou foi a Sadia.

"Reconheço que é marca forte, mas a Perdigão tem uma tradição que não pode se perder assim. Penso nas cidades que terão unidades fechadas e nos funcionários que ficarão sem trabalho." Ele começou a trabalhar na empresa aos 14 anos, como office-boy do curtume dirigido por seu pai, Abramo Brandalise. Aos 16, saiu para estudar na capital e a empresa custeou parcialmente seu curso de medicina veterinária na Universidade de Santa Catarina, em Lages.

Chester. Especializado em nutrição animal, Brandalise formulou a primeira ração usada para alimentar o frangão batizado de chester, desenvolvido pela Perdigão. Mesmo com a transferência da empresa para os grupos de investimento em 1994, ele permaneceu na empresa até 2003.

"Videira deve muito à Perdigão. Se hoje temos universidade, unidade do Sesi, escolas técnicas e qualidade de vida, pode pesquisar que tem a empresa por trás." Ele atribui ao tio o fato de a cidade ter a dimensão atual. Quando Saul adquiriu, com um sócio, uma fábrica de banha no bairro Vitória, do outro lado do Rio do Peixe, o plano era tornar a vila independente de Perdizes, o povoado existente no lado oposto. Brandalise, que tinha um armazém na outra margem, se opôs. Os dois núcleos acabaram se tornando um só, com o nome de Videira.

A cidade está entre as 15 maiores economias do Estado e, graças à Perdigão, teve períodos áureos nos esportes. Brandalise conta que, no final da década 80 e início dos anos 90, a equipe de futebol de salão da Perdigão assumiu a hegemonia do esporte no Brasil. O time patrocinado pela empresa ganhou a Taça Brasil - principal campeonato nacional - em 1987 e 1990. A equipe foi tricampeã sul-americana em 1988, 1989 e 1990. Uma lei estadual aprovada em 11 de dezembro de 2002 declarou oficialmente a cidade como "O berço da Perdigão".