Título: Europa e EUA voltam a derrubar bolsas
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2011, Economia, p. B1

Crise da dívida europeia e indefinição nas negociações de Obama com a oposição republicana preocupam investidores em todo o mundo

Os principais mercados globais de ações voltaram a fechar em queda, em dia de mais preocupações com a crise da dívida europeia e com a falta de progresso nas negociações do governo dos Estados Unidos para a elevação do limite de endividamento.

Na Bolsa de Nova York, o índice Dow Jones fechou em queda de 0,76% e o S&P-500 recuou 0,81%. O Nasdaq caiu 0,89%. Além da crise na Europa, a falta de novidade nas conversações entre o presidente Barack Obama e o Partido Republicano também alimentou a ansiedade do mercado, embora a maioria dos investidores considere que a possibilidade de um calote seja muito pequena.

Acompanhando a inquietação mundial, a Bolsa de Valores de São Paulo caiu 1,09%, abaixo dos 59 mil pontos pela primeira vez desde maio de 2010.

Na Europa, as ações de bancos também despencaram com a desconfiança dos mercados em relação aos testes de estresse do sistema financeiro, divulgados na sexta-feira. Além disso, o jornal alemão DieWelt informou que a União Europeia discute um novo imposto sobre o sistema financeiro da zona do euro. O objetivo seria cobrar dos bancos, de forma indireta, parte do socorro a Grécia, Irlanda e Portugal em 2010. A notícia provocou insatisfação entre os investidores.

Em Milão, novo foco da crise no bloco, o índice MIB fechou em queda de 3,06%. Em Paris, o CAC 40 perdeu 2,04% e chegou ao seu nível mais baixo em 2011. Londres e Frankfurt tiveram perdas de 1,55%. Em toda a Europa, as bolsas fecharam em forte baixa. Os resultados foram puxados pelos títulos do sistema financeiro. O índice DJ Stoxx Bank, o principal do setor bancário europeu, caiu 3,63%.

A aversão aos títulos bancários teve relação direta com as análises sobre os testes de estresse realizados pela Autoridade Bancária Europeia (ABE). A ABE reprovou oito instituições - cinco espanholas, duas gregas e uma austríaca - e aprovou por pouco outras 16, além de recomendar processos de recapitalização de ? 2,5 bilhões para reforçar fundos próprios.

Ontem, as estimativas independentes foram bem mais negativas. Morgan Stanley e Société Générale calcularam o impacto sobre os bancos de eventuais calotes na Europa.

Para o banco americano, as instituições europeias precisariam de ? 40 bilhões a ? 64 bilhões para enfrentar perdas de 45% nas dívidas de Grécia, Irlanda e Portugal. Já o estudo do Société Générale sugere que, em caso de perda de 50% das dívidas desses três países e de 20% da Espanha, a necessidade de capital suplementar se elevaria a ? 22 bilhões.

Para Nicolas Veron, analista do Instituto Bruegel, de Bruxelas, os testes de estresse foram mais rigorosos que os de 2010, mas as dúvidas sobre o sistema persistem. "Os testes ilustram a frustrante, instável e híbrida integração financeira europeia." / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS