Título: Crise externa complica política de juros
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2011, Economia, p. B5

BC deve elevar a Selic, mas analistas têm dúvidas se a estratégia mudará nos próximos meses por causa dos problemas na Europa e nos EUA

A persistência da inflação no primeiro semestre do ano forçará um novo aperto dos juros nesta semana pelo Banco Central, que tenta demonstrar não ser leniente com o aumento de preços, mesmo diante de um cenário externo repleto de incertezas e riscos de crise em países desenvolvidos.

Economistas do mercado apostam em alta de mais 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros e aguardam uma sinalização: a Selic vai estacionar em 12,50% ao ano ou haverá mais altas à frente? Em sua reunião na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) tentará ancorar as expectativa de mercado, indicando que busca trazer o IPCA, índice oficial de inflação, de volta para o centro da meta no fim do ano que vem, ao mesmo tempo em que o governo luta para preservar fortes taxas de crescimento econômico.

Diante do impasse sobre o limite de endividamento dos Estados Unidos e incertezas sobre as dívidas de países europeus, analistas se dividem sobre a possibilidade de o BC - formal ou informalmente - deixar para 2013 a tarefa de entregar a inflação no centro da meta (4,5%), desde que o IPCA caminhe nesta direção. Tal discussão é permeada por preocupações com a arranhada reputação do BC, mas também com os impactos negativos dos juros altos sobre o crescimento, a taxa de câmbio e o custo da dívida pública. O risco de aumento da inadimplência também está no radar.

Dificuldades. O ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas avalia que dificilmente a meta de 4,5% será alcançada em 2012, ano em que o salário mínimo vai subir bastante, alimentando o consumo. Mas ele avalia que o temor de um descontrole inflacionário está se extinguindo, diante da atuação do BC e do cenário externo que ganha contornos deflacionários.

Ele não vê maiores problemas em a meta não ser atingida, desde que o IPCA mostre tendência de queda. "Não haverá uma dramática perda de reputação para o BC se o IPCA não chegar no centro da meta. Nenhum BC do mundo atualmente está acertando. Se a inflação chegar a 5%, já será bom e significa que haverá tendência de chegar ao centro em 2013", disse. Atualmente, o IPCA em 12 meses está em 6,7%.

Uma eventual decisão de adiar para 2013 o objetivo de atingir o centro da meta de inflação poderia transmitir a ideia de maior tolerância com o aumento de preços por um Banco Central chamuscado por dúvidas sobre sua atuação no ano passado, segundo Armando Castelar, coordenador de economia aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "O BC já fez isso em 2010, jogou para 2011, e em 2011 jogou para 2012. Pode usar isso uma vez ou outra, mas se fizer todo ano perde credibilidade."

O economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, considera um sinal ruim se o IPCA não chegar em 4,5% em 2012. "É problemático não cumprir a meta, pois o BC está fazendo as pessoas esperarem uma inflação mais baixa que depois não vão ter", disse. "É um problema macroeconômico causado por uma reputação em baixa."