Título: Suspeita de corrupção derruba diretor do Dnit, o 6º da cúpula a perder cargo
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2011, Nacional, p. A4

Presidente Dilma determinou o desligamento de José Sadok após reportagem do ""Estado"", publicada ontem, ter revelado que a mulher dele, dona de construtora, ganhou R$ 18 mi em contratos de obras; substituto ainda não foi escolhido

O diretor executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), José Henrique Sadok de Sá, foi afastado do cargo ontem por ordem da presidente Dilma Rousseff após o Estado ter publicado reportagem mostrando que a Construtora Araújo Ltda., de Ana Paula Batista Araújo, mulher dele, ganhou contratos no valor de pelo menos R$ 18 milhões para tocar obras em rodovias federais em Roraima, entre 2006 e 2011, vinculadas ao órgão.

Sadok respondia interinamente pela direção-geral do órgão, em substituição a Luiz Antônio Pagot, que saiu de férias depois de também ser ameaçado de afastamento pela presidente, em consequência de denúncias de corrupção (cobrança de propina em contratos de obras) na área, reveladas pela revista Veja. Ele ficou apenas nove dias como interino no cargo.

Afilhado político do deputado Luciano Castro (PR-RR) e do senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, Sadok é o sexto dirigente do setor de transportes varrido pela crise que atinge o setor. Sadok responderá a processo administrativo disciplinar, que pode resultar em demissão.

Além de Pagot - cuja situação legal é a de diretor-geral do Dnit, em férias, mas com afastamento determinado pela presidente Dilma Rousseff - e Sadok, caíram o ministro Alfredo Nascimento, que pediu demissão em caráter irrevogável, o diretor-geral da Valec, estatal que cuida das ferrovias, José Francisco das Neves, e os assessores da pasta Mauro Barbosa da Silva (chefe de gabinete) e Luís Tito Bonvini.

Oficializado no cargo no último dia 12, no lugar de Alfredo Nascimento, que tentou resistir, mas não suportou a pressão, Paulo Sérgio Passos recebeu de Dilma a missão de promover uma "faxina" no setor de transportes. Ele era o secretário executivo de Alfredo Nascimento. Como o ex-ministro, também é filiado ao PR, mas tem ligações antigas com o PT. Passos é - pelo menos por enquanto -, uma pessoa da confiança da presidente da República. Foi empurrado goela abaixo do PR, que queria emplacar outro nome.

Lobista. O ministério afastou também ontem Frederico Augusto de Oliveira Dias, assessor da diretoria do Dnit que atuaria como lobista de um esquema de favorecimento de empreiteiras, segundo notícia do jornal Correio Braziliense.

Dias, tratado como boy e estafeta por Luiz Antonio Pagot no depoimento que prestou à Câmara dos Deputados, na quarta-feira, seria um operador a serviço do secretário-geral do PR, deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), que nega a acusação.

Irritada com a demora nas providências, em meio à onda de denúncias que não cessam, Dilma ligou ontem para Passos, após ler a reportagem d0 Estado (veja os bastidores abaixo). De forma dura e objetiva, a presidente cobrou uma limpeza no órgão, que teria sido aparelhado pelo PR e é alvo de denúncias sobre cobrança de propina.

Passos argumentou que tinha consciência da gravidade do fato e que tomaria as medidas necessárias. À tarde, ele despachou com a presidente no Palácio do Planalto e detalhou as providências para reformular a equipe e retomar as rotinas da pasta.

Em rápida entrevista a seguir, Passos deixou claro que as substituições vão prosseguir. "Eventualmente, se houver necessidade de fazer algum ajustamento na equipe, seja internamente, no Dnit ou outro órgão, eu farei", afirmou. Mas ponderou que as mudanças serão decididas com cautela. "Não estou trabalhando por antecipação, imaginando demissões", explicou.

Substituto. O ministro prometeu escolher o substituto de Sadok ainda ontem, mas acabou adiando a decisão. O nome sondado foi o do diretor de Planejamento e Pesquisa, Jony Marcos Lopes, mas Passos preferiu aguardar o processo de checagem biográfica para evitar novas surpresas.

Sadok atua há 25 anos no setor e essa não é a primeira vez que é alvo de denúncia. No final do ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) lhe aplicou uma multa de R$ 5 mil. Na ocasião ele era chefe de gabinete da Diretoria-Geral do Dnit e foi punido por ter autorizado o pagamento de R$ 2,1 milhões à construtora Queiroz Galvão, antes da execução dos serviços para os quais foi contratada.

Três anos antes, quando era diretor de obras e operações do DER de Roraima, ele também foi questionado pelo TCU por ter atestado a construção de uma ponte de 120 metros sobre o rio Arraia, em Roraima, com o mesmo custo de uma ponte de 160 metros.

"Pequenos acidentes". Ontem, o vice-presidente da República, Michel Temer, minimizou a crise política que se instalou no Palácio do Planalto provocada pela série de escândalos no Ministério dos Transportes. Ele avaliou como "pequenos acidentes" os problemas de articulação política do governo a partir dos episódios que provocaram a queda de toda a cúpula da pasta.

"No Brasil, esses pequenos acidentes de natureza política são mais ou menos normais. Não devem nos pressionar. Até porque eles passam muito rapidamente e não superados muito rapidamente", argumentou o vice, que participou ontem da comemoração dos 202 anos da Associação Comercial do Rio.

Temer ainda garantiu que a base de apoio do governo está "sólida". E atribuiu as soluções dos problemas políticos a "composições governamentais" que dependem da presidente Dilma.

"Você sabe que não há acertos (para reorganizar a base do governo). Há composições governamentais que dependem, naturalmente num regime presidencialista, da presidente da República. E quando há, por exemplo, uma questão em algum ministério, você verifica que há imediatamente uma solução. A base governamental está muito sólida. Não há nenhuma dificuldade de relação do governo com a base governista", afirmou.

Em meio a crise, a presidente Dilma Rousseff convidou os líderes da base, na quarta-feira, para um coquetel no Palácio do Alvorada com intuito de aliviar o mal-estar recente entre aliados, especialmente com o PR. O partido ficou melindrado com a decisão da presidente de derrubar a cúpula do ministério e de não consultar a bancada da Câmara sobre novas indicações. Há, ainda, uma indefinição sobre a permanência de Pagot no governo. A presidente já avisou os aliados que não vai recuar e que não há clima para que ele volte ao cargo. / COLABOROU ALFREDO JUNQUEIRA

ÍNTEGRA

"O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, decidiu afastar temporariamente o diretor executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) que estava respondendo pela Diretoria-Geral do órgão.

Ao mesmo tempo, constituiu Comissão de Processo Administrativo Disciplinar para apuração dos fatos noticiados pelo jornal "Estado de São Paulo", na edição do dia 15 de julho de 2011."