Título: Temos ferramentas para enfrentar a crise
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2011, Economia, p. B1-4

Paulo Valle, subsecretário da Dívida Pública do Tesouro

O Tesouro Nacional brasileiro acredita que a rolagem da dívida pública do governo no segundo semestre será um processo ainda mais tranquilo do que no primeiro semestre, quando já foi pago mais de 80% dos títulos públicos que vencem ao longo do ano. Mesmo com um agravamento da crise na zona o euro, o subsecretário da Dívida Pública do Tesouro, Paulo Valle, estima que há flexibilidade para administrar qualquer momento de volatilidade.

"Resta até o fim do ano menos de 20% da dívida prevista para o ano, um valor é inferior a R$ 90 bilhões", estimou.

A estratégia de ter um colchão da dívida, em combinação à baixa necessidade de financiamento no segundo semestre do ano, indica que não deve haver dificuldades para o Tesouro mesmo com volatilidade maior, em meio a um cenário de estresse internacional. "A cada crise que passa, por causa da melhora dos fundamentos da economia, o mercado brasileiro é menos impactado", garante.

Na entrevista, o secretário defendeu a emissão de US$ 550 milhões do Global 2021 no mercado internacional, porque facilita o financiamento para investimento de longo prazo para o País, principalmente de infraestrutura.

Qual o cenário para a rolagem no segundo semestre do ano?

Rolamos praticamente 100% da dívida pública no primeiro semestre. Resta até o fim do ano menos de 20% da dívida prevista para o ano. Esse valor é inferior a R$ 90 bilhões. Acreditamos que o segundo semestre vai ser até mais tranquilo, vamos ter até mais flexibilidade na administração da dívida.

O prazo e a composição podem ser prejudicados no segundo semestre, considerando-se piora no cenário externo ou necessidade de mais altas de juros?

Não acredito, pois o primeiro semestre foi muito positivo. Colocamos praticamente 36% a mais de NTN-Bs (papéis atrelados ao IPCA) do que no primeiro semestre de 2010, praticamente 40% a mais de prefixados comparativamente com o primeiro semestre de 2010, e colocamos 18% a menos de LFTs (títulos atrelados à taxa Selic) comparativamente com o mesmo período em 2010. Como o vencimento no segundo semestre é bem inferior ao realizado até agora no ano, incluindo até 1.º de julho, não acredito em nenhuma dificuldade para rolar a dívida e acredito que temos até muito mais flexibilidade para a rolagem, podendo até reduzir um pouco a colocação, principalmente, de NTN-B e prefixado em momentos de maior estresse.

O sr. vê um cenário mais tranquilo mesmo se a aversão ao risco aumentar por conta de um eventual agravamento da crise da zona do euro?

É sempre bom lembrar que mais de 95% da dívida brasileira é dívida doméstica. E acredito que temos bastante flexibilidade para administrar qualquer momento de volatilidade, a exemplo das crises nos últimos anos. Em 2005, 2006 e 2008, o Tesouro teve bastante flexibilidade de manejo em maior volatilidade. Por causa da estratégia adotada de ter sempre um colchão da dívida, sempre ter uma distribuição maior da dívida, conseguimos enfrentar sem problemas. Isso aliado à baixa necessidade de financiamento para o segundo semestre, não vejo nenhum problema mesmo com uma volatilidade maior. Creio que a cada crise que passa, por causa da melhora dos fundamentos da economia brasileira, o mercado brasileiro é menos vulnerável. O Brasil já tem muito mais ferramentas hoje em dia para enfrentar crises.

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