Título: Argentinos ameaçam paralisar porcoduto
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2011, Economia, p. B11

Ruralistas de país vizinho dizem que vão fechar pontes na região da fronteira para impedir o que chamam de invasão de carne suína brasileira

Os produtores de carne suína da Argentina, reunidos na Federação Agrária - a mais combativa organização ruralista argentina -, anunciaram após uma assembleia na Província de Córdoba que vão bloquear as pontes que ligam o país ao Brasil para impedir a entrada de produtos suínos brasileiros, especialmente a polpa de carne suína.

"Não podemos mais permitir que exista um "chanchoducto" (porcoduto) pelo qual chegam aqui animais de outros países, que afetam nossa produção e provocando o desaparecimento de pequenos e médios produtores", reclamou Eduardo Buzzi, líder da Federação Agrária, que acusa o governo argentino de permitir o que denomina de invasão brasileira.

Buzzi, famoso por sua capacidade de mobilização desde que em 2008 e 2099 foi um dos protagonistas dos protestos contra o governo de Cristina Kirchner, indicou que os piquetes nas vias de acesso às pontes ocorrerão em no máximo 15 dias. "Vamos fazer o controle dos carregamentos e pedir que os caminhões deem meia volta", ameaçou Ciríaco Fortuna, um dos líderes da federação.

No dia 3 de abril, os produtores anunciaram a realização de piquetes contra os suínos brasileiros. Mas, três semanas depois, decidiram suspender as manifestações de forma temporária, já que na ocasião o Ministério da Agricultura havia assumido o compromisso de moderar a entrada de carne suína brasileira.

Invasão. O setor suíno argentino possui um longo histórico de conflitos com os produtores brasileiros. Os confrontos se iniciaram em 1997, durante o governo do presidente Carlos Menem (1989-99), quando os produtores locais começaram a reclamar de supostas invasões de carne suína brasileira, além de acusar os brasileiros de fornecerem milho subsidiado para alimentar os suínos. Em várias ocasiões, entre 1997 e 2001, os produtores argentinos fizeram piquetes nas estradas próximas à fronteira para impedir a passagem dos caminhões que transportavam carne suína brasileira.

Mas, com a crise de 2001-2002, a carne suína saiu da longa lista de produtos sensíveis, já que a importação despencou e os produtores locais recuperaram o mercado. Mas o aumento do consumo interno - por causa da queda do consumo da carne bovina, produto cujos preços dispararam nos últimos três anos - e o consequente aumento das importações (crescimento de 30% nos primeiros quatro meses deste ano em comparação com 2010) despertaram os sentimentos protecionistas entre os produtores.

Leitão para todos. A presidente Cristina Kirchner, que no ano passado em discurso na TV afirmou que a carne de leitão era afrodisíaca, anunciou nesta quarta-feira o programa "Porco para todos", que consiste em um sistema de venda de produtos suínos a preços populares (50% abaixo do normal) para os setores mais pobres da população.

No entanto, a oposição afirma que o programa não passa de populismo, já que essa carne não representa mais de 0,01% do consumo diário dos argentinos.