Título: Paraguai e Uruguai foram os primeiros a ser investigados
Autor: Dantas, Iuri
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2011, Economia, p. B1/3

Desde maio, Secretaria de Comércio Exterior apura indícios de triangulação nas exportações de cobertores vindos dos dois países

Os métodos criativos dos exportadores chineses são assunto das autoridades comerciais brasileiras há anos, mas as críticas sempre apontaram para os países do Sudeste Asiático, sob a esfera de influência econômica da China. Apesar disso, a primeira investigação de triangulação aberta no Brasil teve como alvo os dois sócios menores do Mercosul, Paraguai e Uruguai.

Em maio, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento abriu investigação de "circumvention", como é conhecida, tecnicamente, a prática de triangulação de mercadorias. O alvo foi a exportação de cobertores pelos dois países. Sob o manto da união aduaneira, grande parte dos produtos da Argentina, Paraguai e Uruguai não pagam imposto para entrar no Brasil.

A concorrência com importados, tanto no mercado doméstico, quanto em outros países, tornou-se ainda maior após a crise desencadeada pela quebra do banco americano Lehman Brothers, em 2008. O aumento do desemprego e outras dificuldades financeiras representaram uma queda no volume de compras dos países desenvolvidos.

Os Estados Unidos perderam para a China a posição de principal parceiro comercial do Brasil, enquanto a Argentina está na terceira posição. O superávit do País com os dois emergentes atingiu US$ 7,75 bilhões no primeiro semestre, enquanto a troca comercial com os EUA significou um déficit comercial para o Brasil de US$ 4,12 bilhões.

Protecionismo. Com a crise, veio o protecionismo. A Argentina, por exemplo, requer dos exportadores brasileiros uma licença que demora meses, violando regras da Organização Mundial de Comércio. O Brasil respondeu com a mesma exigência para carros de qualquer país. Como resultado, 40 mil veículos argentinos aguardavam nas aduanas para entrar em território brasileiro na semana passada.

As dificuldades forçaram o governo brasileiro a agir. Banco Central e Ministério da Fazenda tentam evitar a valorização do câmbio, há promessa de uma nova política industrial e foi criado um grupo de inteligência comercial na Receita Federal, para identificar problemas mais rapidamente. Apesar disso, o contrabando cresce quando o governo impõe restrições a importados.

Segundo Marco Antonio Peñas, da fabricante de alto-falantes Arlen, a sobretaxa de US$ 2,35 a cada quilo de equipamento importado da China não aumentou as vendas. "A gente sente um aumento muito grande do contrabando, e mesmo após a tarifa não conseguimos recuperar a participação de mercado."