Título: Síria massacra 80 civis, acusa oposição
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2011, Internacional, p. A13

Forças leais a Bashar Assad abrem fogo contra opositores em Hama, palco do infame massacre de 1982, no mais violento golpe contra a onda de protestos iniciada em março; regime prende líder da tribo baqqara, que se opõe ao ditador

ReutersViolência. Vídeo amador mostra opositor ferido em Hama Na véspera do início do Ramadã, o mês sagrado do Islã, o regime Bashar Assad lançou a mais violenta onda de repressão desde o início dos protestos na Síria, em 15 de março. Os ataques das forças de segurança mataram ontem pelo menos 80 civis na cidade de Hama, de acordo com os relatos de grupos locais de defesa dos direitos humanos.

A cidade é marcada por outro massacre ordenado, em 1982, pelo então presidente Hafez Assad, pai de Bashar. Na ocasião, 30 mil civis foram mortos em Hama na repressão a uma revolta convocada por militantes islâmicos.

Há cerca de um mês, os principais acessos rodoviários à região haviam sido bloqueados por tanques do Exército. Ontem, os militares entraram na cidade, de 700 mil habitantes, atirando contra os manifestantes.

Segundo relatos de moradores, a milícia Shabbiha, formada por integrantes da minoria alauita - grupo sectário de Assad -, também participou da invasão.

Além de Hama, a repressão violenta também foi grande em subúrbios da capital, Damasco, e cidades como Homs, Deraa, Latakia e Abukamal, mas os números de mortos e feridos ainda são desconhecidos.

"Assad está tentando resolver a questão antes do Ramadã, quando cada dia de jejum e oração pode virar uma nova sexta-feira (dia oficial das orações no restante do ano). Mas ele só está jogando mais gasolina em uma fogueira", disse à agência Reuters Yasser Saadeldine, ativista sírio exilado no Catar.

Desde o início dos protestos, a Síria endureceu o controle de fronteiras e impede jornalistas de entrar no país, mas registros do domingo sangrento circularam pela internet em vídeos feitos por moradores. As imagens mostram hospitais lotados, pessoas atropeladas por tanques e soldados fazendo mira contra a população desarmada.

Pelo lado oficial, a TV estatal síria defendeu a onda repressiva acusando os manifestantes de terem agido com violência e assassinado três militares na província de Deir al-Zor.

Prisão. A oposição em Deir al-Zor anunciou ontem que a polícia prendeu, em Damasco, o líder da tribo baqqara e um dos principais articuladores das forças contra Assad, Nawaf Bashir.

Horas antes de ser preso, Bashir declarou à agência de notícias Reuters que tentava convencer os moradores da província a deixarem de lado a resistência armada às incursões dos militares de Assad. O líder afirmou que seria mais eficiente voltar a usar protestos pacíficos contra o ditador. / AP, AFP e REUTERS