Título: Aiatolás miram Afeganistão e Egito
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2011, Internacional, p. A14

Com uma diplomacia agressiva e dinheiro, Irã busca influência sobre afegãos e árabes que se revoltaram contra poder

O campus da Universidade Islâmica Khatam-al Nabyeen, em Cabul, reúne em 12 mil metros quadrados, além de salas de aulas, alojamento para estudantes e a maior mesquita de Cabul. O complexo de U$ 17 milhões financiado pelo Irã segue a linha xiita do Islã, embora mais de 90% dos afegãos sejam sunitas. É o mais visível projeto da crescente influência iraniana no Afeganistão.

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O presidente afegão, Hamid Karzai, reuniu-se em junho com seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em Teerã para a primeira Conferência Internacional de Combate ao Terrorismo. "Potências ocidentais se autoproclamam líderes da luta contra o terror, mas, EUA e Grã-Bretanha e Israel são os que abrigam o terrorismo", disse o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, no discurso de abertura, transmitido pela estatal Press TV.

Além da provocação, o evento foi uma clara tentativa de aproximação com países do Oriente Médio onde a influência iraniana é pequena, graças aos laços que mantêm com Washington e Londres. Como e até quando esses laços serão mantidos após a retirada das tropas do Afeganistão é incerto. Na expectativa de que haja rompimento, o Irã tenta marcar território.

Outro exemplo é o Egito, forte aliado americano no governo do ex-presidente Hosni Mubarak. Desde a primavera egípcia que derrubou Mubarak, em fevereiro, o regime iraniano corteja os militares no poder interinamente, na tentativa de preparar terreno para uma aproximação maior com o novo governo a ser decidido nos próximos meses.

Há no Egito forte apoio popular por um futuro governo mais independente dos EUA. A juventude revolucionária defende políticas a favor dos palestinos no lugar da cooperação com Israel em segurança - uma das primeiras medidas do governo de transição foi abrir a fronteira à Faixa de Gaza.

O Irã enxerga na possível mudança de perfil do regime egípcio uma oportunidade. Duas semanas após a queda de Mubarak, os aiatolás ensaiaram uma aproximação ao pedir que dois navios de guerra iranianos atravessassem o Canal de Suez, sob controle do Cairo e fechado ao Irã desde a Revolução Islâmica de 1979. O pedido foi concedido. Um mês depois, o chanceler egípcio, Nabil Elaraby, prometeu reinventar a política externa e disse que "o Irã não é inimigo".

"O novo entendimento (do Egito) é de que deve haver uma política de integração e não de confronto com o Irã", diz o chefe do Centro de Oriente Médio da London School of Economics (LSE), Fawaz Gerges.

A opinião tem eco entre os egípcios. Uma relação pacífica com o Irã reduziria as tensões na região, o que é bom para o Egito, na visão do ex-secretário-geral da Liga Árabe e provável candidato à presidência Amr Moussa.

Israel assiste a tudo com apreensão. O chefe da inteligência militar israelense, major-general Aviv Kochavi, acusa o Irã de fazer doações à Irmandade Muçulmana, de olho nas eleições. Não seria novidade. Os aiatolás nunca esconderam o financiamento de grupos como o Hezbollah, do Líbano, ou o palestino Hamas. O regime também estuda enviar US$ 5,8 bilhões em ajuda à Síria, outro forte aliado de Teerã. / A.C. com WASHINGTON POST