Título: Acidente poderia ter sido evitado, diz diretor do BEA
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2011, Metrópole, p. C1

Escritório francês faz dez recomendações para prevenir novas tragédias, com destaque para ""exercícios de pilotagem manual""

Os pilotos do voo 447 não tinham recebido treinamento específico para comando de um Airbus A330-300 em modo manual em grandes altitudes. "O acidente poderia ter sido evitado se as boas decisões tivessem sido tomadas", disse o diretor do escritório francês de investigação (BEA), Jean-Paul Troadec. A análise do acidente também fez o escritório francês listar dez recomendações de segurança de voo. O treinamento teria sido crucial para o controle do avião nas circunstâncias em que o voo Rio-Paris se encontrava: à noite, sob tempestade, turbulência moderada e perda de informações de navegação.

Em nota oficial, a Air France rebateu as constatações do relatório. "Nada permite, neste estágio, colocar em dúvida as competências técnicas da tripulação", afirmou a empresa. "É importante compreender se o ambiente técnico, os sistemas, os alarmes complicaram a compreensão da situação por parte da tripulação."

Profissionais como Gérard Feldzer, ex-piloto e consultor, afirma que "se fosse durante o dia, o acidente não teria acontecido, porque os pilotos teriam a linha do horizonte para se orientar". Outros especialistas querem ainda mais horas de voo. "Antigamente, os comandantes tinham mais de 20 mil horas e os copilotos, mais de 15 mil", afirma o engenheiro aeronáutico brasileiro Jorge Leal Medeiros.

Recomendações. Uma das medidas de segurança propostas pelo BEA é a adoção de câmeras instaladas nas cabines para registrar imagens do painel de bordo - seriam as "caixas-pretas de vídeo". "Seria muito bom para tirar dúvidas em situação de acidente", diz o diretor de operações do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho.

Outra recomendação é "rever o conteúdo dos programas de treinamento e de controle e impor exercícios específicos e regulares dedicados à pilotagem manual", diz o relatório. "Desde que essas aeronaves automatizadas entraram em serviço se discute o treinamento maior de pilotos no manual. Hoje, os comandantes mais gerenciam os voos do que realmente voam", disse ao Estado um piloto de Airbus que trabalha no exterior.

O escritório francês ainda sugere a elaboração de novos critérios de divisão de tarefas entre os copilotos para os momentos de ausência do comandante. Entre outras recomendações técnicas, estão também o aumento do volume de informações gravadas pelas caixas-pretas convencionais - de vozes da cabine e dos parâmetros de voo. As recomendações ainda deverão ser avaliadas pelas autoridades de aviação civil europeias.

Segundo o coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da Universidade Estácio de Sá, Marcus Reis, o relatório ainda não elucida as causas do acidente. "A divulgação da investigação aos pedaços só serve para tirar a pressão de cima da indústria francesa", afirma. Para Reis, que também é piloto, uma provável falha no sistema totalmente automático da Airbus - que não se pronunciou - ainda não foi revelada. "Esse avião foi construído para ser à prova de falha humana. Ele faz muita coisa sozinho. Quem garante que foram os pilotos a colocar o nariz da aeronave para cima? O avião pode ter assumido aquela atitude."