Título: Para derrubar Assad, é preciso do apoio dos alauitas
Autor: Chacra, Gustavo ; Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2011, Internacional, p. A9

Seita xiita controla o aparato de segurança e teme que a renúncia do presidente seja o início de um longa perseguição religiosa no país

Após quatro meses de manifestações e de repressão feroz, o presidente Bashar Assad ainda se recusa a renunciar. O que o mantém na presidência é o extenso aparato de segurança criado por seu pai, Hafez, e dominado por seus colegas alauitas, uma seita xiita minoritária.

Os alauitas, que são 12% da população síria, manifestaram apoio a Assad, temendo que sua queda abra caminho para o massacre de seus seguidores. Se a oposição democrática pretende avançar, precisa convencer os alauitas de que eles podem se voltar contra o regime sem temer represálias.

Os líderes alauitas não se mantiveram cegos diante da acelerada erosão do poder do governo e de sua incapacidade de restaurar o controle do país. Se a segurança deles for garantida, alguns dos principais nomes dos alauitas podem optar por retirar seu apoio à família Assad e se unirem - ou ao menos auxiliar tacitamente - à oposição.

Um sinal por parte deles pode convencer poderosos líderes alauitas no Exército a desertar e levar consigo outros oficiais. Desde meados de março, conforme a repressão tornou-se cada vez mais violenta, as Forças Armadas expurgaram oficiais e soldados - entre eles muitos sunitas até então leais ao regime - para reduzir a chance de uma revolta.

Mesmo quando o comando é de um general sunita, um suboficial alauita costuma ser o verdadeiro responsável pela tropa. Como resultado dessa estrutura, não se pode confiar no Exército para promover uma repressão violenta e as Forças Armadas se veem impedidas de desertar em massa.

Com medo de serem executados, soldados insatisfeitos trabalham discretamente para abalar o regime. Líderes da oposição relatam que militares e oficiais simpatizantes os alertam sobre a iminência de ataques. Entretanto, é improvável que o alto escalão do Exército anuncie coletivamente que deixará de apoiar o governo, como ocorreu no Egito e na Tunísia. As forças da oposição não devem depositar muita esperança nessa possibilidade.

A chave da mudança está na população alauita como um todo - e não no Exército. No entanto, os alauitas precisarão receber garantias da oposição antes que decidam abandonar Assad. No mês passado, líderes religiosos e comunitários alauitas tentaram dialogar com sunitas, entre eles membros da Irmandade Muçulmana, para obterem garantias de segurança. A oposição deve fazer tais promessas e encorajar os alauitas a tomar parte na revolta em massa.

O ônus de garantir que minorias - que acreditam necessitar da proteção do regime - não sejam submetidas a atos de vingança recai sobre a maioria sunita. Esses líderes religiosos e políticos da comunidade majoritária no país podem salvar a Síria de seus demônios sectários. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL