Título: No Brasil, analistas veem impacto no câmbio
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2011, Economia, p. B1-5

O fim da crise política nos Estados Unidos não deve solucionar os problemas fiscais do país no curto prazo e dentro de um cenário onde a nota da dívida soberana americana seja rebaixada no curto prazo e o desempenho da economia não se restabelece num ritmo adequado, a relação rentabilidade e risco deve continuar bem vantajosa para o Brasil e levar o câmbio para R$ 1,50 até novembro. Essa é a leitura feita ontem de Nova York pelo economista-chefe do Barclays Capital, Marcelo Salomon.

A instituição reduziu as perspectivas de crescimento americano, de 2,5% para 1,7% neste ano e de 3,4% para 2,4% em 2012.

Para Salomon, a tendência de continuidade de valorização do real em relação ao dólar é muito provável no próximo trimestre, pois investidores devem escolher ativos de melhor qualidade, como os relativos ao Brasil e à Coreia do Sul, para aplicar seus recursos em momentos de muitas incertezas sobre o cenário para a economia americana e também europeia. "Se não ocorrer um corte de US$ 4 trilhões das despesas dos EUA, a Standard & Poor"s já disse que deve rebaixar o rating soberano do país."

Por outro lado, caso ocorra de fato uma redução drástica das despesas do orçamento em Washington, Salomon aponta que isso pode causar uma queda adicional do vigor do Produto Interno Bruto dos EUA no médio prazo. De acordo com o Barclays Capital, a expansão de 1,7% neste ano e de 2,4% em 2012 pode ser revista e ficar ainda menor com o corte de despesas nos EUA, que devem ser definidos pelo Congresso nos próximos dias.

Salomon destaca também que a situação da Europa não está nada tranquila, pois as incertezas de investidores estão afetando com vigor os preços dos ativos da Itália, que é a terceira economia mais forte da zona do euro.

Em meio a tantas dúvidas sobre o cenário econômico nos EUA e Europa, Salomon aponta que tem fundamento a decisão do Banco Central no Brasil de indicar que vai diminuir o ritmo do aperto monetário. Ele espera que o Copom eleve a Selic em mais 0,25 ponto no dia 31 e a partir daí manter a taxa estável em 12,75% até o final de 2012.

Para o estrategista sênior de moedas do JP Morgan, Kenneth Landon, a fraca recuperação da economia americana não deve fortalecer o dólar no curto prazo. Ele estima que o euro deve continuar com maior vigor que a moeda dos Estados Unidos no decorrer do ano, a ponto de estimar que a cotação deve chegar a US$ 1,45 por euro em três meses.

No caso do Brasil, Landon acredita que as recentes medidas pelo governo para conter a sobrevalorização excessiva do câmbio podem surtir algum efeito e a cotação deve chegar a R$ 1,59 em novembro e fechar o ano em R$ 1,60.

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