Título: Grécia terá geração perdida com a crise
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2011, Economia, p. B6

Estudo da OCDE afirma que nível de endividamento do país vai recuar para 60% do PIB em 2035; até lá, a economia vai sofrer

A crise que devasta a economia da Grécia há um ano e meio pode custar ao país uma geração perdida. A advertência foi feita ontem, em Paris, em relatório especial da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

Segundo a entidade, no melhor dos cenários - caso as privatizações avaliadas em ? 50 bilhões até 2015 deem certo -, o nível de endividamento do país vai recuar para 60% do PIB em 2035. Até lá, porém, a economia vai sofrer. Os cenários para a Grécia foram publicados no relatório Perspectivas Econômicas divulgado ontem pela OCDE com a presença do ministro da Economia grego, Evangelos Venizelos.

No cenário menos favorável, aquele em que as privatizações não somem ? 50 bilhões, o país vai conseguir em 2035 reduzir sua dívida de 140% do PIB para 100% - bem acima do limite do Pacto de Estabilidade da UE, que fixa o limite em 80%. "Uma primeira análise faz crer que o programa diminuirá ligeiramente a dívida grega", diz o relatório.

Caso todas as medidas de austeridade e os planos de privatização sejam seguidos à risca, então a Grécia verá sua dívida bastante reduzida. "Na base das hipóteses prudentes sobre crescimento e taxas de juros, e se as reformas fiscais e estruturais sejam plenamente implementadas, a relação dívida/PIB poderia atingir um ápice em 2013, antes de cair para cerca de 60% ao longo das duas próximas décadas", completa o documento.

Austeridade. Para a entidade, a aplicação da austeridade deve ser "irrepreensível" para surtir os efeitos esperados. Venizelos disse que seu país vai cumprir os esforços necessários. Em 2011, o governo prevê arrecadar ? 5 bilhões com a venda de patrimônios públicos. "O programa de privatizações é muito ambicioso e constitui um exercício de credibilidade", afirmou.

Para alcançar seus objetivos, o custo social será elevado. De acordo com as projeções, a recessão este ano deve chegar a 3,5%, o que elevará o desemprego no próximo ano a 16%. Em 2013, a atividade será retomada com ligeiro crescimento, estimado em 0,6%, mas o desemprego vai continuar subindo, atingindo 16,4% - um sinal de que o pior da crise, para os gregos, ainda está pela frente. Já a inflação vai se reduzir a 0,7% em 2012.

Na contramão de analistas, a OCDE entende que não há uma crise europeia das dívidas soberanas, pois os problemas seriam restritos a três países: além da Grécia, Irlanda e Portugal. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS C