Título: Em abrigos, pessoas são abandonadas por parentes
Autor: Thomé, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2011, Vida, p. A18

Carlos Alberto Gonçalves envelheceu em instituições de cuidados prolongados. Paraplégico por poliomielite, era engraxate no Largo da Penha, na zona norte, quando sentiu uma dor no abdome. "Parecia que eu tinha levado uma facada. Fui socorrido por PMs", lembra. Passada a crise, não se recuperou: perdeu o pouco movimento dos braços.

Do hospital, internou-se na Clínica Campo Belo, que fechou no fim dos anos 90. De lá, mudou-se para a Casa de Saúde Jacarepaguá, onde vive há 11 anos. Ali, seus irmãos só o visitaram quatro vezes. "Queria saber da minha mãe. Nem sei se está viva." Mas não se lamenta. "Por onde passei, fiz amizades. Vou fazer 63 anos; aqui sempre tem um bolinho no meu aniversário."

Passa os dias assistindo à tevê, na cama. Diz que "às vezes" toma "um solzinho". "O importante é não se conformar, não se entregar ao desespero", ensina.

Rita Medeiros de Lima, de 75 anos, senta ao ver a equipe de reportagem. Há moscas em volta dela. Sorridente, exibe os bonecos de pelúcia que ganha de visitantes e funcionários. A funcionária explica que ela vive ali há dez anos, desde que perdeu o movimento das pernas e a capacidade de se comunicar por causa de um AVC.

A casa tem 80 leitos, 70% deles ocupados por pacientes completamente dependentes. Poucos recebem visitas. "Rico tem home care, essas pessoas mal têm onde viver", diz o diretor do hospital, Luiz Correia Lima.