Título: Infraestrutura teve só 2,32% do PIB em 10 anos
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2011, Economia, p. B11

Porcentual fica abaixo do mínimo necessário (3%) para evitar deterioração e é muito inferior ao que os principais concorrentes do País investem no setor

O Brasil investe tão pouco em transportes que, na prática, está reduzindo sua malha logística em vez de ampliá-la. Um estudo do economista Claudio Frischtak, da InterB Consultoria, mostrou que o País investiu pouco mais de meio trilhão de reais em infraestrutura nos últimos dez anos. Isso representou apenas 2,32% do PIB, abaixo dos 3% necessários somente para evitar a deterioração da estrutura.

Além de baixo, o investimento em infraestrutura no Brasil é muito desigual e negligencia os transportes. A análise dos R$ 543,3 bilhões aportados em infraestrutura entre 2001 e 2010, na estimativa do economista, revela que quase 57% desse total foi aplicado em geração de energia e em telecomunicações. Outros 12,5% foram para saneamento, também insuficiente.

Assim, os transportes receberam no período apenas R$ 166 bilhões, menos de 10% do total, um montante que não alcança 1% do PIB acumulado na década. A já pequena fatia destinada ao setor ainda apresenta mais uma distorção. A maior parte dos recursos, quase R$ 114 bilhões, foram investidos apenas em rodovias, deixando para os outros modais (ferrovias, metrô, aeroportos, portos e hidrovias) apenas 31% das já insuficientes inversões do País em transportes.

"Hoje temos um país rodoviário e, mesmo com a concentração dos recursos, as estradas estão mal, as ferrovias são limitadas e o investimento em hidrovias é residual", diz Frischtak.

Segundo ele, embora o governo venha tentando ampliar os investimentos no setor com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a infraestrutura está se deteriorando em termos relativos, sobretudo a de transportes. Diante do crescimento recente da economia e da demanda, é como se tivéssemos hoje menos aeroportos, ferrovias ou estações de metrô. "Avaliamos em relação ao PIB porque ele expressa o tamanho, a complexidade e as demandas da economia e da população. Estamos caminhando para trás."

Para Frischtak, a promessa da presidente Dilma Rousseff de despolitizar o Ministério dos Transportes após denúncias de corrupção que derrubaram seu titular é uma oportunidade única para o governo avançar num setor que está, quase silenciosamente, minando a competitividade da economia brasileira.

Há uma correlação entre a infraestrutura e o custo de um produto que sai da fábrica. Mesmo nos setores em que o Brasil investe bem, energia elétrica e telecomunicações, os efeitos não são os ideias para a produção. O alto custo das tarifas de energia elétrica e de telefonia, em boa parte elevado por impostos, afeta os custos das empresas.

Se a energia é cara, faltam alternativas de escoamento mais baratas do que o transporte rodoviário, um executivo falta a uma reunião de negócios sem conseguir tomar um avião ou um navio não consegue atracar no porto, tudo isso termina no preço final de um produto, o que dificulta a exportar e concorrer com importados no mercado interno.

Enquanto isso, Frischtak alerta que os principais competidores do Brasil no cenário econômico mundial mostram-se cada vez mais atentos a isso, sobretudo os emergentes asiáticos. Segundo ele, a China ampliou de 7,3% para 13,4% do PIB o investimento em infraestrutura entre 2003 e o ano passado. A Índia se aproxima de 6%. A Tailândia já põe mais de 15% do PIB em logística há oito anos. O Vietnã superou 11% em 2005. Na América Latina, o Chile já investia 6,2% há uma década e hoje está entre as economias mais competitivas.

"Nossos competidores se reposicionam continuamente. Estão investindo mais não só em infraestrutura, mas em educação e tecnologia e nós não estamos acompanhando", adverte. "Para alcançar os níveis atuais dos asiáticos, temos de investir entre 4% e 6% do PIB em infraestrutura durante 20 anos. Isso para chegar onde estão hoje e não onde estarão quando chegarmos lá. Para convergir com eles, precisamos de 5% a 7%."