Título: Analistas questionam poder de fogo do BCE
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2011, Economia, p. B1/3

Em meio ao forte nervosismo nos mercados internacionais, está sendo questionada a capacidade do Banco Central Europeu (BCE) para estancar o contágio na zona do euro. A autoridade voltou a adotar medidas não convencionais de combate à crise ontem, com a intervenção no mercado de títulos da dívida da zona do euro e a ampliação da liquidez oferecida aos bancos.

"Não acredito que o plano terá um efeito positivo duradouro e parece algo como um ato de desespero", disse à Agência Estado o estrategista-chefe do Lloyds Bank em Londres, Charles Diebel.

Apesar de não ter sido confirmado, analistas apontam que o BCE entrou no mercado para comprar papéis da Irlanda e de Portugal, pela primeira vez desde março, deixando de fora os papéis da Espanha e da Itália, países que também foram tragados pelo furacão.

Para Lena Komileva, estrategista global da corretora Brown Brothers Harriman, isso deixa a rede de proteção europeia aflitamente inadequada para interromper o contágio.

Outro problema é que o mecanismo de resgate europeu, mesmo turbinado recentemente, não tem recursos suficientes para socorrer a Itália, caso necessário. "Num momento em que os mercados continuam focados no risco sistêmico, isso deixa os títulos italianos e espanhóis fortemente expostos a pressões especulativas", avalia Lena.

Para complicar a equação, há quem diga que não seria plausível para o BCE tentar intervir no amplo mercado da Itália.

Com um estoque de dívida de 1,6 trilhão em 2010, uma atuação nos ativos italianos teria de ser maciça, algo superior a 110 bilhões, aponta o HSBC - até então, o BCE havia comprado 78 bilhões em títulos europeus.