Título: Desaceleração na UE deve durar mais
Autor: Milanese, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2011, Economia, p. B4

Medidas de austeridade implementadas para combater os déficits fiscais vão deteriorar o crescimento na zona do euro e podem agravar a crise

A recente escalada da crise de dívida soberana na zona do euro atingiu os mercados junto com a piora nas expectativas de crescimento econômico da região. Até então, a desaceleração parecia temporária, mas agora os analistas europeus já projetam um freio mais forte para os países centrais e retração da atividade em membros da periferia do euro no terceiro trimestre deste ano.

A onda de austeridade europeia, resultado da delicada situação fiscal, tem o efeito colateral de deteriorar o crescimento econômico e deixar o bloco numa encruzilhada. As agências de classificação de risco já alertaram que a falta de crescimento pesa desfavoravelmente na análise dos frágeis ratings da zona do euro. Nesse cenário, a disposição do Banco Central Europeu de prosseguir com o ciclo de aperto monetário fica claramente em xeque.

"À medida que a crise soberana se espalha para as maiores economias da zona do euro, gerando mais medidas de austeridade, o espaço para crescimento sólido vai diminuindo", diz Carsten Brzeski, analista do ING.

O índice de atividade industrial (PMI) da zona do euro caiu pelo terceiro mês seguido em julho, para 50,4 pontos, decepcionando analistas. Já existe a expectativa de que o número caia abaixo de 50 pontos no curto prazo, indicando contração econômica e acendendo uma luz amarela. Os indicadores do setor de serviços também vieram bastante abaixo do projetado. "Os índices de julho mostraram forte deterioração nas condições econômicas na zona do euro, e não somente na periferia", afirma Ken Wattret, do BNP Paribas.

Trimestre fraco. Um novo mergulho na recessão está sendo descartado por enquanto, mas a fraqueza tende a ser maior do que a esperada. O economista Marco Valli, do UniCredit, calcula que, pela primeira vez desde o fim de 2009, o PMI sinaliza crescimento baixo, de apenas 0,5% (em base anualizada), em julho. "O terceiro trimestre será fraco para a zona do euro", escreve Astrid Schilo, analista do HSBC. O Barclays Capital vê riscos para a projeção de alta de 0,3% do PIB da zona do euro entre julho e setembro e deve revisar o número após o resultado do segundo trimestre, em meados de agosto.

A Alemanha e a França vinham puxando o desempenho do bloco, mas já existia a expectativa de que perdessem fôlego diante do processo de desaceleração global. A maior preocupação, entretanto, está voltada para a Espanha e a Itália, que foram tragadas para o centro da turbulência financeira e mostram desempenho econômico anêmico. Com desemprego em 20%, o BNP Paribas vê possibilidade de a Espanha voltar a apresentar recessão. Enquanto isso, a atividade italiana segue estagnada - o PIB da Itália no segundo trimestre será anunciado hoje, com projeção de crescimento de apenas 0,3%, na margem.

Nos casos de Grécia e Portugal, o ajuste fiscal tem efeitos recessivos sobre a economia. Depois de conseguir um crescimento nada espetacular de 0,2% no primeiro trimestre, o PIB grego deve voltar a recuar. A economia portuguesa, por sua vez, já encolheu 0,6% nos primeiros três meses do ano em razão dos cortes de gastos do governo. Para o Goldman Sachs, as medidas fiscais, embora necessárias, poderão se mostrar rápidas demais nesses países, o que prejudicaria a credibilidade da consolidação.

Mesmo com o ambiente incerto, o Banco Central Europeu decidiu embarcar num ciclo de aperto monetário em abril para conter a alta da inflação, que complica o quadro econômico na região. O processo começou em abril e prosseguiu em julho, levando os juros para 1,5%. A expectativa é de que o BCE faça uma pausa até setembro, após ter mantido a taxa ontem.