Título: Brasil está preparado, diz equipe econômica
Autor: Fernandes, Adriana ; Graner , Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2011, Economia, p. B6

Para Mantega e Tombini, há mecanismos para assegurar a estabilidade financeira

No dia em que os mercados entraram em pânico, a equipe econômica do governo Dilma Rousseff saiu a campo e fez questão de enfatizar que o Brasil tem instrumentos para lidar com um agravamento da crise internacional.

Se o cenário piorar demais, o governo poderá liberar os depósitos compulsórios, reduzir os juros e usar os dólares das reservas internacionais. A presidente classificou a crise de "pneumonia crônica", segundo relato do deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.

Antes de os negócios começarem no Brasil, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que o País estava preparado para enfrentar uma "agudização" da crise.

Em entrevista ao programa Bom dia, Ministro, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ele lembrou que o País tem mecanismos como taxa de juros e depósitos compulsórios, que podem ser reduzidos para garantir oferta de dinheiro (liquidez) e assegurar a estabilidade financeira. Foi exatamente o que ocorreu em 2008 e 2009, na crise deflagrada pela quebra do banco Lehman Brothers.

Tombini também mencionou as reservas internacionais, que podem garantir suprimento de dólares para as empresas nacionais, caso haja fuga de capitais. "São ferramentas que temos para fazer frente ao ambiente internacional que pode mudar no curto prazo."

Crescimento. Ele avaliou que a situação internacional, independentemente dos próximos desdobramentos, já implica expectativas menores de crescimento global em 2011 e 2012.

Segundo ele, tal situação deve evitar uma pressão adicional de preços de commodities, itens que no fim do ano passado e início deste ano pressionaram a inflação.

Tombini também lembrou que o regime de câmbio é flutuante e, por isso, é bom que se tome cuidado para as pessoas não assumirem compromissos excessivos na moeda americana. "O câmbio flutua para os dois lados. É sempre bom lembrar que o dólar pode não ficar assim", afirmou.

Dano mínimo. Antes de embarcar para o Peru, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também fez questão de dizer que o País está preparado para enfrentar o problema com o mínimo de danos para a economia brasileira. "Houve um agravamento da situação internacional que tem atingido as bolsas no mundo todo e aqui também no Brasil, e isso reflete o enfraquecimento dos EUA e a situação europeia que não está resolvida. Espero que não continue", afirmou.

Ele ponderou que é difícil avaliar para onde o mercado vai com o agravamento da crise externa, porque não se sabe, agora, onde está a segurança - numa referência indireta ao fato de os Estados Unidos serem um dos epicentros da atual crise.

"Não sabemos qual é a reação do mercado, porque, no passado, nós sabíamos: era fuga para a segurança. Hoje eu pergunto: onde está a segurança? Temos dúvidas que o comportamento será o mesmo", questionou o ministro.

Mantega disse que o Brasil "certamente" oferece segurança, mas, novamente, repetiu que não acredita em disparada do dólar, apenas em "movimentação relativa".

Mantega informou que no encontro da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), a ser realizado no Peru, os ministros da Fazenda da região discutirão estratégias conjuntas para o enfrentamento dessa crise. Ele disse que os ministros estudarão mecanismos de defesa, principalmente se houver fuga de capitais. Entre as medidas, Mantega citou a possibilidade de criar um banco de compensação financeira para prover liquidez em momentos de crise. / COLABOROU RAFAEL MORAES MOURA