Título: BCE tenta blindar Itália e Espanha
Autor: Chade, Jamil ; Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2011, Economia, p. B1

Em uma tentativa de evitar novas quedas nas bolsas hoje como ocorreu na semana passada, o Banco Central Europeu e BCs de todo o continente tentarão dar uma demonstração de força. Eles prometem uma "intervenção decisiva" nos mercados para blindar a Europa depois do rebaixamento da nota de risco dos EUA na sexta-feira. BCs comprarão títulos da dívida da Itália e da Espanha e injetarão recursos no mercado para evitar uma paralisia de créditos entre os bancos. Já o G-7 disse que garantirá liquidez para os mercados.

Investidores temem que a medida pode ter vindo tarde demais. A medida foi tomada depois de uma frenética série de reuniões entre BCs, ministros de Finanças do G7 e do G20, que passaram o fim de semana mobilizados e pressionados a encontrar uma estratégia para acalmar os investidores. Os ministros corriam contra o relógio, para anunciar medidas antes da abertura dos mercados da Ásia, que já abriram em queda hoje.

A atenção esteve direcionada especialmente para a Itália e a Espanha, terceira e quarta maiores economias da zona euro. O risco país - taxa de juros cobrada pelos investidores para comprar títulos da dívida - dessas economias havia batido recordes na sexta-feira.

A decisão do BCE foi reiniciar a partir de hoje a compra de papéis do tesouro italiano e espanhol. Dezessete BCs nacionais de toda a Europa farão o mesmo, em uma ação coordenada para tentar mostrar força ao mercado. Em seu comunicado, o BCE não diz que comprará os títulos. Mas garante que agirá de forma "ativa" e elogiou Roma e Madri por seus esforços. Para os investidores, esse é um sinal claro que o banco voltará a comprar títulos dos dois países.

Na semana passada, o presidente do BCE, Jean Claude Trichet, provocou um terremoto nos mercados ao rejeitar a compra de títulos dessas economias. Trichet cobrava promessas de mais austeridade.

Silvio Berlusconi, primeiro-ministro italiano, fez sua parte e anunciou reformas para antecipar o equilíbrio em suas contas para 2013. Madri promete o mesmo para hoje, com mais um pacote de austeridade de 4,9 bilhões.

A esperança é que a medida surta efeito e acalme investidores. Mas fontes no BCE e no governo espanhol disseram ao Estado que, se isso não funcionar, o desastre pode ser maior.

O raciocínio é que a dívida da Itália não pode ser resgatada pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), que dispõe de ? 440 bilhões.

Bruxelas faz lobby para que o fundo seja ampliado para ? 2,5 trilhões para lidar com o contágio de outros países. Mas a Alemanha é contra.

Berlim era também um dos governos que rejeitava a ação do BCE, temendo a inflação e a ira dos eleitores na Alemanha. Ontem, porém, acabou também cedendo. Em comunicado, Nicolas Sarkozy, presidente da França, e a chanceler alemã, Angela Merkel, se disseram favoráveis à intervenção no mercado.