Título: Rebaixamento dos EUA pressiona a China
Autor: Alves, Fábio
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2011, Economia, p. B7

Gigante asiático pode ter de deixar de se apoiar em exportações; analistas veem desejo de Pequim de desafiar os EUA

O rebaixamento da classificação de crédito dos Estados Unidos está pressionando a China a deixar sua condição de economia apoiada em exportações - que produziu montanhas de reservas internacionais em dólares declinantes - embora os políticos chineses e americanos resistam ao confronto de decisões políticas necessárias a mudanças.

Alguns analistas dizem que a dura retórica chinesa voltada aos EUA, após o rebaixamento do rating pela Standard & Poor''s, demonstra o desejo de Pequim de desafiar a liderança econômica mundial dos EUA.

Eles também afirmam que os comentários chineses destinam-se a abrandar críticas sobre o gerenciamento econômico do governo local, que permitiu a elevação das reservas da China para mais de US$ 3 trilhões - as maiores do mundo.

Em editorial anteontem, a agência estatal de notícias Xinhua classificou o rebaixamento como uma "conta vencida que a América tem de pagar por seu próprio vício em dívida e a política míope em Washington". O editorial renovou a demanda de Pequim por uma "reserva cambial global nova, estável e segura".

O rebaixamento é uma pancada, em particular, para a China, maior detentor de títulos dos EUA, em parte por conta da política de encorajar exportações restringindo o valor do yuan e usando dólares para comprar Treasuries, único mercado profundo e líquido o bastante para acomodar compras em escala.

Os líderes chineses têm mostrado preocupação sobre os Treasuries que detêm, hoje estimados em US$ 1,2 trilhão. O rebaixamento pela S&P dá a eles mais motivos para preocupação. "É um despertar para a China", disse Zhao Qingming, analista do China Construction Bank, um dos quatro maiores bancos estatais do país. "A China deve tentar balancear sua conta corrente o mais cedo possível".

Zhao diz que se a China mantiver seu superávit comercial, cerca de US$ 22,3 bilhões em junho, teria poucas escolhas a não ser seguir comprando Treasuries.

"Está claro que a China precisa se reequilibrar e que será doloroso", disse Michael Pettis, professor da Peking University. O rebaixamento do crédito dos EUA, ele disse, "pode dar munição para aqueles que percebem a necessidade do reequilíbrio".

Desde que a China retomou o processo de revalorização do yuan, a moeda subiu 6% ante o dólar. Mas, durante o período, já se depreciou contra outras moedas, como o euro e o iene.

Li Daokui, conselheiro do PBoC (o BC chinês), escreveu em seu blog que a decisão da S&P faria investidores venderem dívida norte-americana, resultando em "turbulência" nos mercados. Ele previu que o rebaixamento faria o Federal Reserve (o BC dos EUA) lançar uma terceira rodada de compras de bônus para estabilizar os juros de longo prazo. "Devemos estar preparados do nosso lado", disse Li, sem detalhar o que isso significa. / NALU FERNANDES, COM INFORMAÇÕES DA DOW JONES