Título: Divergências no Fed
Autor: Modé, Leandro ; Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2011, Economia, p. B1

As divergências no Federal Reserve (Fed, banco central americano) são indubitavelmente mais profundas do que podemos perceber. Segundo a declaração do Fed, na tarde de ontem, a maioria "atualmente prevê que as condições econômicas - como as baixas taxas de utilização de recursos e uma perspectiva atenuada de inflação a médio prazo - provavelmente justificarão baixos patamares da taxa interbancária pelo menos até meados de 2013".

Três dissidentes no Fed afirmaram que "teriam preferido que se continuasse a dizer que as condições econômicas justificarão patamares excepcionalmente baixos da taxa interbancária por um período prolongado".

Agora há algum motivo para brigar. Eu afirmo que precisamos de juros baixos "pelo menos até meados de 2013". Vocês dizem "por um período prolongado".

Tudo isso me parece muito barulho por muito pouco, mas a maioria no Fed está praticamente prometendo que os juros permanecerão baixos por quase dois anos. Nós achávamos que "um período prolongado" significasse alguns meses.

Na realidade, a afirmação era um convite implícito aos operadores para que baixassem ainda mais os juros da nota de dois anos do Tesouro, e isso aconteceu imediatamente. Antes do anúncio, o juro de dois anos estava em torno de 0,27%. Agora, é 0,19%. É uma baixa recorde. Há duas semanas , estava acima de 0,40%.

A reação inicial do mercado de ações foi negativa, supostamente porque havia alguma esperança de que o Fed fizesse mais alguma coisa - como lançar mais um programa de afrouxamento quantitativo (QE3). Ao contrário, tivemos a promessa de que "manterá a atual política de reaplicar os pagamentos do principal da dívida na compra de papéis do Tesouro americano. O comitê reavaliará periodicamente as dimensões e a composição dos seus títulos e está disposto a ajustar o seu volume conforme achar mais apropriado".

Em outras palavras, ele poderá adotar um QE3. Ou, quem sabe, não.

Talvez os dissidentes queiram na realidade dizer: "Fizemos tudo o que pudemos, e se a economia ainda está em condições ruins, alguém mais terá de resolver o problema". Mas a maioria não está disposta a fazer isso.

Do jeito que as coisas estão, o Fed concorda com a percepção generalizada de que a economia está cada vez pior. E não está fazendo grande coisa para evitá-lo. O fato de o presidente do Fed, Ben Bernanke, ter agora três dissidentes é um sinal de que no banco central americano, como acontece em uma ou duas outras instituições em Washington que poderíamos mencionar, existe cada vez menos unanimidade. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA

É COLUNISTA DO "NEW YORK TIMES"