Título: EUA mantêm juro e animam bolsas
Autor: Modé, Leandro ; Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2011, Economia, p. B1

BC americano diz que taxa ficará entre zero e 0,25%, pelo menos, até 2013; Ibovespa subiu 5,1% e Dow Jones, 3,98%

Em um dia de intensa volatilidade, as bolsas globais recuperaram parte das perdas da segunda-feira. A melhora foi atribuída, principalmente, à mensagem do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de que a taxa de juros permanecerá no nível atual (entre 0 e 0,25% ao ano) pelo menos até 2013. Alguns analistas também disseram que as ações ficaram atraentes após as quedas generalizadas desde a semana passada.

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) avançou 5,1%, maior alta desde 29 de outubro de 2009. No ano, porém, o principal termômetro da bolsa brasileira perde 26,2%. O Índice Dow Jones da Bolsa de Nova York subiu 3,98%. No ano, cai 2,92%. O dólar se valorizou na maior parte do dia, mas acabou recuando 0,19%, a R$ 1,609.

Apesar da melhora, ninguém se arrisca a afirmar que a retomada dos mercados vai se manter nos próximos dias. Maior prova disso é que o ouro renovou a cotação recorde (US$ 1.743 a onça-troy) e os juros pagos pelos títulos do Tesouro americano mantiveram-se em queda. Isso ocorre quando a procura por esses papéis é grande. O juro do T-bond de 10 anos, por exemplo, chegou a cair à mínima histórica, de 2,033% ao ano. No fechamento, ficou em 2,263%.

"A nossa realidade hoje é esta: pânico e euforia", sintetizou o gestor de renda variável da Infinity Asset Management George Sanders, referindo-se às quedas de segunda-feira e altas de ontem mundo afora. Para os analistas da XP Investimentos, a valorização das bolsas resultou das próprias quedas dos dias anteriores. Em agosto, lembraram que o Ibovespa, por exemplo, ainda perde pouco mais de 13%.

Reunião do Fed. A grande expectativa dos investidores globais era que o Fed indicasse, ao final de sua reunião de política monetária, que poderia adotar um novo programa (o terceiro) de afrouxamento quantitativo (conhecido em inglês pela sigla QE3). Trata-se da compra de títulos do próprio governo ou até mesmo do setor privado. Obviamente, o Fed dá dinheiro vivo em troca desses papéis. Na prática, portanto, é uma injeção monetária na economia com objetivo de estimulá-la.

Na avaliação da maioria dos analistas, o Fed não demonstrou a intenção de fazer um QE3. No entanto, ao dizer explicitamente que o juro vai permanecer baixo até 2013, deu o recado de que ao menos liquidez para os mercados não faltará.

A decisão dividiu não apenas os investidores, mas também os próprios integrantes do Fed: teve sete votos a favor, incluindo o do presidente da instituição, Ben Bernanke. Os três que votaram contra, por sua vez, adotaram uma posição ainda mais pessimista da economia americana. Essa divisão foi a primeira nessa dimensão desde novembro de 1992.