Título: Inflação atinge 6,5% na China em julho
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2011, Economia, p. B4

Índice é o maior em 3 anos e ameaça de nova recessão nos EUA e na Europa reduz margem de manobra na política monetária do governo

A inflação chinesa atingiu 6,5% em julho, o nível mais alto em três anos, o que coloca Pequim numa posição delicada para administrar sua política monetária em meio à ameaça de uma nova recessão nos Estados Unidos e na Europa.

A maioria dos analistas acredita que os preços atingiram seu pico e deverão ceder nos próximos meses, sob influência da queda das commodities provocada pelo pânico que domina os investidores em todo o mundo.

Diante desse cenário, muitos abandonaram previsões recentes de alta da taxa de juros e de novo aperto monetário pelo Banco do Povo, feitas há menos de dez dias. Mas ninguém aposta em uma agressiva política expansionista em resposta à provável retração da economia global.

"As pressões inflacionárias subjacentes continuam a existir, do aumento de salários à rápida expansão da oferta de dinheiro nos últimos dois anos", escreveu Jing Ulrich, diretora de Mercados Globais do JP Morgan.

Apesar disso, ela acredita que Pequim poderá adotar uma política um pouco mais flexível, com medidas "seletivas" de relaxamento das restrições ao crédito, na hipótese de a situação internacional continuar hostil.

Stephen Green, economista-chefe do Standard Chartered para a China, prevê que Pequim poderá relaxar sua política monetária, ainda que "moderadamente". As autoridades chinesas enfrentam o duplo - e contraditório - desafio de combater as pressões inflacionárias e evitar a desaceleração da economia.

O Índice de Preços ao Consumidor ficou em 6,5% em julho, ligeiramente acima dos 6,4% esperados por analistas, e refletiu principalmente os reajustes de alimentos, de 14,8%. A grande vilã foi a carne de porco, com alta de 57%. As pressões inflacionárias também se mantiveram em alta no atacado, com 7,5% no Índice de Preços ao Produtor, ante 7,1% no mês anterior.

"Pequim está obviamente preocupada com a fragilidade externa e a volatilidade no mercado global, mas, com a inflação ainda acima da zona de conforto, continuamos a esperar mais uma alta dos juros nos próximos meses", disse à agência de notícias Bloomberg o estrategista de mercados emergentes do Royal Bank of Canada Brian Jackson.

O ritmo de expansão da produção industrial diminuiu em julho, para 14%, e atingiu o menor nível em 29 meses. Comparado a 15,1% do mês anterior, o resultado indica desaceleração da economia, depois de meses de aperto monetário após a explosão de crédito em 2009 e 2010.

Em resposta ao aumento da inflação e aos sinais de superaquecimento, o Banco do Povo da China elevou os juros cinco vezes desde outubro de 2010. Ainda assim, com inflação de 6,5%, a taxa real ronda o terreno negativo.