Título: Bancos brasileiros estão mais expostos à economia americana
Autor: Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2011, Economia, p. B6

Volume de créditos de instituições nacionais cresceu de U$ 17 bi para U$ 22 bi em menos de um ano

Os bancos brasileiros aumentaram a exposição sobre a economia americana em 53% em apenas um ano e o mercado dos Estados Unidos é hoje a praça financeira onde as instituições nacionais têm maior atividade na concessão de créditos e empréstimos. Hoje, os bancos nacionais registram uma vulnerabilidade à economia americana de US$ 20,1 bilhões.

Em processo de internacionalização e fortemente capitalizados, os bancos brasileiros registraram uma expansão nas atividades de créditos e empréstimos em diversos países do mundo. Abriram agências no exterior e passaram a atuar no mercado de créditos.

Mas foi a expansão nos EUA que impulsionou esse crescimento. Em março de 2010, o volume dos créditos de bancos brasileiros no país se limitava a US$ 13 bilhões. Três meses depois, chegava a US$ 17 bilhões e, em dezembro, a US$ 22,1 bilhões. Nos 27 países da UE, a exposição total dos bancos nacionais é de US$ 23 bilhões.

A deterioração da situação americana em 2011, porém já teve impacto nas atividades dos bancos nacionais. De uma exposição de US$ 22,1 bilhões, os bancos reduziram seus créditos no mercado americano em US$ 2 bilhões em apenas três meses. No mesmo período em que os bancos reduziam sua exposição no mercado americano, cresciam as atividades desses bancos em paraísos fiscais.

Na estratégia de internacionalização, os bancos brasileiros passaram de uma exposição no mundo de US$ 64 bilhões em março de 2010 para mais de US$ 84 bilhões no primeiro trimestre de 2011. Uma das últimas iniciativas nessa direção veio do Banco do Brasil, que comprou o Eurobank, com sede em Miami. O negócio custou ao BB cerca de US$ 6 milhões e permitirá que o banco brasileiro atue no varejo, com créditos e contas.

Choque. Bancos em todo o mundo têm o equivalente a mais de 10% do PIB do planeta expostos na economia americana e a decisão da agência de classificação de rating de rebaixar a nota dos EUA promete causar ondas de choque pelos mercados. A exposição de bancos no mundo à economia americana chega a US$ 5,8 trilhões.

Os bancos europeus são os mais interligados à economia dos EUA e, portanto, os mais vulneráveis. Não por acaso, ontem eram os mais nervosos diante do anúncio da S&P. Hoje, acumulam uma exposição na economia americana de US$ 3,7 trilhões.

Os dados são do Banco de Compensações Internacionais, com sede na Suíça e que serve de BC dos BCs. Nos últimos anos, os bancos europeus chegaram a reduzir a exposição em mais de US$ 400 bilhões na economia americana, diante da recessão e dos temores em relação à dívida. Mas com a crise ganhando força na Europa, a direção dos empréstimos e créditos se voltou ao mercado americano.

No mercado europeu, os bancos passam o fim de semana contando o prejuízo que podem ter diante da nova situação dos EUA. "Nas primeiras horas do sábado, todos os analistas foram convocados a avaliar o que a decisão da agência significava para cada setor", disse um funcionário do UBS em Zurique. Os bancos suíços, por exemplo, tem uma exposição de US$ 720 bilhões na economia americana.

O Credit Suisse havia feito cálculos mostrando que uma eventual moratória americana significaria perdas nas bolsas mundiais de cerca de 30%. O rebaixamento não terá o mesmo impacto. Mas para bancos que já sofrem com sua exposição à Grécia, Espanha, Itália, Portugal e Irlanda, a notícia sobre os Estados Unidos não contribui.