Título: Obstrução na Câmara, a resposta dos aliados
Autor: Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2011, Nacional, p. A11

Ouvidos os afagos de Dilma e o discurso de Mantega, líderes de cinco partidos da base avisam ao governo que não votam mais nada esta semana

Um dia depois da ação da Polícia Federal no Ministério do Turismo, comandado pelo PMDB, a tentativa da presidente Dilma Rousseff de se aproximar de seus aliados na Câmara não surtiu efeito e a crise com a base parlamentar chegou ao maior ponto de tensão nesses primeiros oito meses de governo.

Menos de três horas depois de Dilma reunir o Conselho Político, chamar os ministros de competentes e distribuir afagos, os deputados da base começaram a fazer obstrução na Câmara e se negaram a votar qualquer proposta até a próxima semana.

O movimento de insatisfação com a presidente e com o seu comando político é fortemente influenciado pelas "faxinas" promovidas em ministérios e pela demora na liberação de emendas dos parlamentares. A presidente, ao abrir a reunião do conselho convocado para discutir a crise econômica internacional, falou da necessidade de estreitar as relações com a base.

Na linha de gentilezas, segundo participantes do encontro, a presidente disse aos líderes aliados que a liderança de um País como o Brasil é feita pela presidente da República, mas que ela tinha consciência de que tal liderança é exercida em conjunto com os agentes políticos.

Dilma mencionou em seu discurso a crise entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o Congresso americano. Definiu o caso americano como impasse político, mas que, no Brasil, acredita "na maturidade de nossos políticos para enfrentar a crise". Mesmo depois de longas negociações Obama não aprovou como pretendia o aumento do teto de endividamento do País e os EUA tiveram sua nota de crédito rebaixada pela agência Standard & Poor"s.

À tarde, ouvidas as explicações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre a crise, aliados informaram ao líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que não haveria mais votações nesta semana. No movimento estavam o PTB, o PP, o PR, o PSC e o PMDB. "Não dá para a presidente fazer de conta que está tudo bem. Não está", definiu um aliado.

Municípios. O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), afirmou que, além da crise internacional, é preciso resolver o problema dos municípios. Os aliados cobraram a promessa do governo de que, na volta do recesso, a questão de liberação dos recursos para obras nos municípios estaria resolvida.

"O governo alega que não pode gastar neste ano, porque gastou muito no anterior e não poderá gastar no próximo, por conta das eleições. Quando afinal o prefeito vai conseguir construir uma escola, uma quadra de esportes?", reclamou outro aliado. Os líderes querem que o governo fixe um calendário para liberação das emendas.

O pico de insatisfação da base coincidiu com a divulgação do resultado de pesquisa de opinião apontando queda na popularidade da presidente Dilma. "Ela já perdeu 6 pontos. Daqui a pouco, ficará mais afável com a base", comentou um aliado. Um petista reagiu de outro modo: disse estar preocupado com a possibilidade de a base aproveitar esse fato, se a queda continuar, para endurecer a relação com a presidente.