Título: Tranquilo, líder sírio promete reprimir toda contestação armada
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2011, Internacional, p. A12

Na reunião de ontem com representantes de Brasil, Índia e África do Sul, Bashar Assad tentou passar uma imagem de que seu poder não está ameaçado. Estava calmo, falava lentamente. Recusou até mesmo ser acompanhado por assessores ou ministros no encontro com os enviados do Ibas. Cobrado pela violência nos últimos dias, garantiu que restabeleceu o controle sobre Hama e disse que, em Deir al-Zor, onde dezenas morreram, seus tanques sairão entre hoje e amanhã, mas só depois de terem "limpado" a cidade.

O líder sírio admitiu que "cometeu alguns erros" em relação ao excesso de violência de seu Exército contra civis. Mas, ao falar dos apelos internacionais por moderação em seu país, alertou que não está disposto a ceder. "Onde houver contestação armada na Síria, ela será reprimida", disse Assad ao grupo de embaixadores, segundo o Estado apurou em Genebra, ao ter acesso à transcrição da reunião.

O sírio quebrou ontem protocolos diplomáticos ao receber os enviados do Ibas. A praxe estipula que apenas ministros ou chefes de governo sejam recebidos pelo presidente. Ontem, enquanto se reunia com a chancelaria síria, a delegação dos três países emergentes foi informada de que Assad também os receberia. Há dois dias, o líder sírio havia interrompido um longo tempo de ausência da cena política internacional para receber um enviado turco. A conversa durou sete horas.

Ontem, o encontro com o ditador sírio durou 30 minutos. Segundo ele, Damasco não aceitará cidades com barricadas formadas por grupos armados e se recusa a moderar sua resposta a essas ameaças. Ele mandou um alerta ao Conselho de Segurança da ONU. "É um assunto interno", disse.

Segundo Assad, grupos islâmicos radicais estão por trás da violência, uma alegação que ONGs e ativistas de direitos humanos contestam. O presidente sírio disse também que, no caso de Hama, a violência foi organizada pela Irmandade Muçulmana. Ele garantiu que a situação na cidade já esta "sob controle". Assad afirmou ainda que a Al-Qaeda penetrou no território sírio e também seria responsável por desestabilizar o governo.

Sobre a violência nos últimos dias em Deir al-Zor, condenada internacionalmente, ele voltou a dar a mesma razão para a ação militar do governo: a ameaça de grupos armados. A retirada só ocorrerá, segundo ele, porque os grupos de contestação foram "aniquilados".

Cortês, Assad ainda agradeceu a Brasil, Índia e África do Sul por estarem resistindo à ideia de sanções contra seu país no Conselho de Segurança da ONU. A diplomacia de Damasco escutou os apelos do grupo, mas fez também seu pedido: quer que os países emergentes continuem nessa linha de atuação na ONU.