Título: Ações de bancos dos EUA têm forte queda
Autor: Chade, Jamil ;Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2011, Economia, p. B1-5

Bank of America e Citigroup lideram perdas de ontem com quedas de 10,92% e 10,47%

Depois do tombo no mercado de ações na segunda-feira, os maiores bancos dos Estados Unidos enfrentam uma nova ameaça de crise. No topo da lista dos mais vulneráveis está o Bank of America, a maior instituição do país, com US$ 2,265 trilhões em ativos e com uma queda 47% no valor de suas ações desde o início do ano.

Em uma tentativa de conter o pânico do mercado em torno de suas papéis, o executivo-chefe do banco, Brian Moynihan, se dispôs ontem a debater com 6.000 investidores. O esforço, porém, não trouxe resultado.

O Bank of America sofreu uma queda de 10,92% em sua ações no pregão de ontem da Bolsa de Valores de Nova York. Seu desempenho contribuiu para o recuo de 8,21% no índice KBW, a medida do desempenho das ações de 24 instituições bancárias do país. Os outros três maiores bancos americanos também viram suas ações despencar. O JP Morgan Chase, com queda de 5,58%; o Citigroup, com 10,47%; o Wells Fargo, com 7,67%.

Os recentes prejuízos não têm sido provocados apenas pelo rebaixamento da avaliação de crédito dos EUA, no último dia 5, pela Standard & Poor"s nem pelas incertezas em torno da saúde financeira dos bancos europeus. O setor bancário americano carrega sua própria lista de dilemas, que contribuiu para a falência de 63 bancos neste ano e de outros 109, em 2010.

O passivo gerado pelos empréstimos imobiliários concedidos sem avaliação criteriosa dos tomadores - o subprime - ainda corrói os lucros das instituições. O desempenho frustrante da atividade econômica - e o risco de nova recessão - adia e dificulta a recuperação do setor. Esses dois fatores empurraram também a corrida pela venda de ações dos bancos na segunda-feira passada.

Naquela manhã, a American International Group (AIG) havia processado o Bank of America por perdas de US$ 10 bilhões resultantes da venda de seguro para hipotecas concedidas pelo banco com base em falsos requisitos. Em relatório à Comissão de Seguros e Câmbio, a agência federal reguladora do setor financeiro dos EUA, o Morgan Stanley antecipou a perda mais de US$ 600 milhões. Ambos os casos contribuíram para uma queda de 10,7% no índice KBW do dia 8.

Conferência. Ontem, durante uma conferência por telefone com 6.000 investidores, o executivo-chefe do Bank of America insistiu na situação "muito confortável" da instituição para atingir as metas internacionais de capital, "supondo-se não haver recessão" em curto e médio prazo. Moynihan informou ainda sua decisão de concentrar-se nos cortes de gastos, em função da queda na renda provocada pela recuperação lenta do país.

"Os fundamentos estão muito melhores no nosso país, na nossa companhia e no nosso setor do que estavam há quatro anos, quando a crise nos golpeou", disse Moyahan, ao afastar o risco de nova turbulência no setor. "O caminho que adotamos é o melhor para os detentores de ações e para a nossa companhia."

Jerry Dubrowski, vice-presidente de Comunicações do Bank of America, afirmou ser regra da instituição não comentar o desempenho no mercado de ações. Porém, alegou ter havido "exagero" na avaliação dos mercados nos últimos dias, o que levou Moynihan a reforçar a continuidade da atual estratégia de negócios do banco. Os outros dois bancos contatados pelo Estado, JP Morgan Chase e Citigroup não retornaram.

Segundo Nancy Bush, analista do SNL Financial, a regulação mais estrita do setor, adotada pelo Fed depois da crise de 2008, tem sido aplicada de forma agressiva, assim como os programas internos de reestruturação das instituições. Mas, ela disse que ainda serão necessários mais três a cinco anos para a estabilização do mercado hipotecário - um dos principais demandantes de crédito nos EUA.

Matt McCormick, analista do Bahl & Gaynor, demonstrou menos otimismo. A hipótese de uma nova recessão não está afastada, em seu ponto de vista, e terá impacto muito mais grave no sistema bancário do que em outros setores da economia.