Título: Crise europeia volta a assombrar bolsas
Autor: Chade, Jamil ;Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2011, Economia, p. B1-5

Mercados de ações tiveram perdas expressivas em toda a região e também nos Estados Unidos; barata, Bovespa resiste e sobe 0,48%

A quarta-feira foi atípica para as bolsas de valores. Enquanto os principais índices acionários da Europa e dos Estados Unidos apresentaram pesadas perdas, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou no azul. A rara diferença nos desempenhos foi explicada pela piora da percepção com a situação fiscal europeia (notadamente da França) e seu possível impacto sobre os bancos dos países ricos.

Nos EUA, o Índice Dow Jones, o mais tradicional da Bolsa de Nova York, derreteu 4,62% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 4,09%. Na Europa, o FTSE de Londres caiu 3,05%, o CAC de Paris, 5,45%, e o DAX de Frankfurt, 5,13%. O Ibovespa avançou 0,48%, para 51.395 pontos e o dólar subiu 0,50%, para R$ 1,617.

Fontes do mercado brasileiro também atribuíram a alta do Ibovespa ao fato de que as ações nacionais ficaram baratas após o tombo dos últimos dias. Além disso, a alta do petróleo (4,5% em Nova York) deu fôlego para os papéis da Petrobrás (que subiram mais de 3%).

A crise da dívida abandonou de vez a periferia e desembarcou no coração da zona do euro. As bolsas foram tomadas pelo pânico diante dos rumores de um rebaixamento da nota de classificação de risco (rating) da França, segunda maior economia do bloco. Por isso, investidores fugiram de bancos franceses, os mais expostos a títulos públicos do país e de outras nações em crise na região.

A pressão obrigou o presidente Nicolas Sarkozy a interromper suas férias na praia, reunir emergencialmente seus ministros em Paris e encomendar um novo pacote de austeridade para convencer os mercados de que vai reduzir sua dívida pública dentro do prazo estipulado. Mas de nada adiantaram os desmentidos do governo francês de que seu rating (ainda em AAA) estava prestes a ser rebaixado.

As agências de rating também declararam que a redução da nota francesa não ocorrerá, ao menos por enquanto. Mas nem por isso fizeram uma avaliação positiva sobre a economia de Paris.

Em nota, a agência Fitch (a terceira mais respeitada, após Standard & Poor"s e Moody"s) alertou para sinais que considera preocupantes. Além disso, lembrou que está em jogo a capacidade de Alemanha e França ajudarem os países menores.

"A evolução dos spreads (taxa de juros) sobre a França e a Alemanha poderia constituir um sinal mostrando que os mercados estão cada vez mais preocupados com a capacidade da zona do euro de dar apoio aos países mais fragilizados da UE", escreveu Diana Allmendinger, analista da Fitch responsável pela avaliação da França.

No caso da Alemanha, as taxas de juros de mercado, que refletem a confiança dos investidores na capacidade de o governo honrar seus compromissos, subiram cerca de 5% nesta semana. Na França, porém, a alta alcançou quase 10%. O custo de financiamento da dívida francesa já bate recordes, ainda que esteja bem inferior às taxas de Itália e Espanha. Em comparação a 2010, o custo francês já triplicou.

Em entrevista ao jornal Le Monde, o economista Jacques Attali, que foi conselheiro de François Mitterrand, alertou que a própria S&P, no relatório em que justificou o rebaixamento dos EUA, fez comparações com a França. "Já estamos sendo selecionados. Temos de fazer de tudo para reduzir a dívida."

Ontem, os bancos franceses foram os mais afetados. O Société Générale chegou a perder 23%, apesar de negar que houvesse qualquer risco de que sua classificação fosse rebaixada. No fim dos negócios, os papéis perderam 14%. As ações do BNP Paribas tombaram 9%.