Título: Dilma apela a aliados para evitar novos gastos
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2011, Economia, p. B8

Presidente diz que situação é gravíssima e Guido Mantega afirma que se Congresso aumentar salários de PMs e bombeiros ""efeito será catastrófico""

A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, aproveitaram a reunião de ontem do Conselho Político do governo para pedir aos aliados que não aprovem despesas novas e derrubem qualquer proposta de aumento salarial no Congresso Nacional. Dilma cobrou responsabilidade para o Brasil conseguir enfrentar o impacto da crise econômica mundial, definida por ela como "gravíssima".

Em tom incisivo, Mantega disse que, se o Congresso aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) regulamentando um piso nacional de salários para policiais e bombeiros, a chamada PEC 300, o efeito no Brasil será "catastrófico". O ministro chegou até a comparar as consequências do eventual aumento ao clima de fim de mundo observado com a turbulência global nos últimos dias.

Na avaliação de Mantega, reajustes salariais para o Judiciário provocariam "efeito cascata" - já que entidades como Ministério Público e Polícia Federal tendem a reivindicar o mesmo aumento -, inviabilizando o equilíbrio das contas públicas.

O ministro já havia feito apelo semelhante na véspera, quando participou de uma audiência na Câmara para discutir a nova crise financeira internacional. Mantega deixou claro que tanto o Congresso como o Judiciário terão que ajudar o Executivo a manter as contas equilibradas.

Preocupada com as insatisfações na base aliada, Dilma também fez um apelo pela unidade e "compreensão". Afirmou que os aliados não podem deixar caducar o projeto que prevê a prorrogação, por mais quatro anos, do mecanismo que permite ao governo manejar livremente 20% dos recursos do Orçamento federal, a Desvinculação de Receitas da União (DRU).

A proposta precisa ser votada até dezembro, quando expira a vigência atual do mecanismo. "A DRU é fundamental para nós", disse Dilma.

Troco. A presidente deseja manter a DRU até 2015, mas aliados revoltados acham que a votação será a oportunidade para dar o troco no Palácio do Planalto. O Conselho Político é formado por 15 partidos da base de sustentação do governo no Congresso, mas desde as demissões que atingiram o Ministério dos Transportes - no rastro de denúncias de corrupção - tornou-se um fórum de reclamações.

No PR do senador Alfredo Nascimento, o ministro que caiu com o escândalo nos Transportes, tanto deputados como senadores dizem que a votação da DRU é "muito difícil". Furioso com as demissões no setor de transportes, o PR está prestes a deixar a base aliada. "Nós ficaremos numa posição de independência. Projetos que forem claramente do PT, mas ruins para a população, nós não vamos apoiar", disse o senador Blairo Maggi (PR-MT).

Com a manutenção da DRU, Dilma planeja utilizar como bem entender a margem de 20% de recursos livres do Orçamento. A presidente disse com todas as letras que, se o Congresso não contribuir, seu governo será muito prejudicado.