Título: No tribunal, ex-ditador egípcio alega inocência
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2011, Internacional, p. A17

Mubarak nega acusações de abuso de poder e conspiração para matar opositores que exigiam sua saída; julgamento é adiado para o dia 15

Hosni Mubarak, o homem que comandou o Egito por mais de 30 anos, declarou-se inocente ontem no julgamento por abuso de poder e conspiração para matar opositores durante o levante que o retirou do poder em fevereiro. Levado ao tribunal numa maca, Mubarak, de 83 anos, pode ser sentenciado à pena de morte. No entanto, o julgamento foi adiado para o dia 15. Até lá, o ex-ditador permanecerá preso num hospital militar.

Durante a audiência, Mubarak e os demais acusados - incluindo seus filhos - foram mantidos em celas construídas exclusivamente para a audiência. O julgamento televisionado do ex-ditador é considerado um marco na primavera árabe, já que Mubarak é o primeiro líder árabe a ir ao tribunal desde que começou a onda de protestos na África e do Oriente Médio.

Cerca de 3 mil homens, entre soldados e policiais, foram convocados para manter a ordem no local do julgamento. Apesar do amplo contingente policial, pelo menos 61 pessoas ficaram feridas ontem em confrontos entre partidários e opositores de Mubarak. Forças de segurança ainda dispararam tiros de advertência na Praça Tahrir, palco dos maiores protestos contra Mubarak em fevereiro, para dispersar manifestantes.

Após quatro horas de audiência, o julgamento acabou sendo adiado, pois a defesa de Mubarak pediu um prazo maior para estudar as 4 mil páginas de provas. O tribunal deve seguir hoje com as audiências sobre os casos dos demais acusados, entre eles o ex-ministro de Interior Habib el-Adlye e seis outros integrantes do regime Mubarak.

Trégua. O julgamento do ex-ditador dá uma breve trégua aos militares que comandam o país desde a queda de Mubarak. Há semanas, manifestantes voltaram às ruas para protestar contra a demora na realização de reformas para a instituição de um governo egípcio democrático.

O julgamento de Mubarak era uma das exigências dos manifestantes. Ainda assim, a população sente-se frustrada por ver o país governado pelos mesmos generais que apoiaram as décadas de governo Mubarak.

As audiências contra o ex-ditador devem ainda colocar o Exército numa saia-justa, já que a defesa do ex-presidente convocou o líder do conselho do governo, o marechal Hussein Tantawi, para depor. Tantawi foi ministro da Defesa de Mubarak por mais de duas décadas.

"É cômico que tenhamos um ex-chefe de Estado sendo julgado enquanto seu próprio ministro da Defesa segue no comando do país, enquanto os próprios generais de Mubarak manejam o espetáculo do julgamento", afirmou o blogueiro e ativista Hosam Hamalawy.

"O advogado de Mubarak quer envolver no caso todos os militares que receberam ordens para atirar contra manifestantes e dispersar protestos", disse o analista militar Safwat Zayaat. Pelo menos 850 pessoas foram mortas nos protestos. Desde as manifestações para depor Mubarak, o Exército tenta manter distância do conflito político, insistindo que apoiou o levante da população e nunca disparou contra manifestantes. / REUTERS e AP

ACUSAÇÕES

Hosni Mubarak Acusado de abuso de poder para acumular riqueza, de conspiração para matar opositores e de vender gás a preços abaixo do mercado para Israel

Gamal e Alaa Mubarak Acusados de abuso de poder e enriquecimento ilícito

Hussein Salem Preso na Espanha, sócio de Mubarak é julgado à revelia por corrupção

Habib El-Adly Ex-ministro do Interior é acusado de conspiração para matar opositores durante protestos de fevereiro

Ahmed Abdel Rashid; Adly Abdel Rahman; Hassan Abdel Rahman; Ismail El-Shaer; Osama El-Marasy e Omar Abdel Aziz

Policiais são acusados de assassinato e tentativa de assassinato contra manifestantes opositores