Título: Governo amplia recursos ao BNDES
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2011, Economia, p. B4

Brasil Maior prevê mais verbas para banco estatal, além de estender por mais um ano Programa de Sustentação do Investimento (PSI)

O Banco Central pediu moderação nas concessões de subsídios por meio de operações de crédito. Mas na direção contrária, a nova política industrial, batizada de Brasil Maior, foi lançada pelo governo com mais um caminhão de subsídios, de efeitos incertos sobre a economia e a inflação em 2012.

O governo não só ampliará mais uma vez os empréstimos do Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como também anunciou que vai estender por mais um ano o Programa de Sustentação do Investimento (PSI).

Criado após a crise de 2008, o programa permite ao BNDES oferecer empréstimos com taxas de juros bem mais baixas do que as de mercado.

O banco estatal vai, inclusive, voltar a atuar no crédito de capital de giro, como fez durante a crise para socorrer as empresas. Tudo bancado com mais subsídios bilionários do Tesouro, até agora pouco explicitados.

Meta. A meta para o BNDES é ambiciosa: desembolsar R$ 500 bilhões para o Brasil Maior até 2014. Mas até o início de maio, quando a inflação estava em forte alta e dominava todas as atenções dentro e fora do governo, a equipe econômica cogitava postergar para 2012 o repasse de R$ 55 bilhões de empréstimos do Tesouro ao BNDES previstos para este ano, como medida para auxiliar o BC.

A estratégia foi revista, com a liberação de R$ 30 bilhões em junho.

Agora, com o recuo dos preços e os sinais de fim do ciclo de alta da taxa Selic, o governo decidiu repassar os R$ 25 bilhões restantes até o final do ano. E já negocia internamente um novo aporte de recursos para 2012, como indicou anteontem o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. "O BNDES precisa de dinheiro o ano todo", afirmou.

A elevação do custo fiscal e o impacto na dívida pública dos empréstimos do Tesouro ao BNDES são a parte mais visível da política adotada, mas os seus efeitos na demanda agregada da economia são bem mais difíceis de serem dimensionados.

Poucos dias antes da divulgação do Brasil Maior, numa espécie de defesa antecipada, o BNDES divulgou estudo apontando o papel anticíclico do banco e a sua contribuição para conter a demanda agregada, com a redução dos repasses entre novembro do ano passado e junho deste ano. Pelo estudo, o banco estaria completamente alinhado com o BC no combate à inflação.

A perspectiva de maiores aportes ao banco de fomento, turbinados pela política industrial, porém, só dá reforço extra à avaliação de que o BC, informalmente, adiou mais uma vez - para 2013 - o horizonte de convergência do IPCA para o centro da meta, de 4,5%.

Essa foi a interpretação do mercado após a leitura da última ata, embora o presidente do BC, Alexandre Tombini, insista que o objetivo é fazer a convergência em 2012.

Juros. Pelo menos no Ministério da Fazenda, não se espera mais uma elevação dos juros, depois da ata do última reunião do Copom.

O governo não vai sacrificar o crescimento da economia, os investimentos e também não quer que a taxa de câmbio seja utilizada como instrumento de política monetária, como deixou claro o ministro Guido Mantega em entrevista ao Estado.

Para isso, vem dando sinais na direção do alongamento do prazo da convergência "para não derrubar a economia", num cenário de enorme incerteza externa.

Se der, deu. Mas se não der para chegar lá em 2012, não será um grande problema.

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