Título: Europa preocupa e Bovespa cai 2,25%
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2011, Economia, p. B8

Bolsa brasileira repercutiu queda nas bolsas europeias, que viveram dia de tensão provocada pela ameaça às economias da Itália e da Espanha

Sob o impacto do pessimismo das bolsas europeias com a crise e as dúvidas sobre as economias da Itália e da Espanha, a Bovespa recuou 2,25% ontem, a segunda maior queda porcentual deste ano. O Ibovespa chegou a 56.017 pontos, o nível mais baixo desde 3 de setembro de 2009. Com três dias de queda em agosto, já acumula perdas de 4,77% no mês.

Durante parte do dia, a queda chegou a mais de 3,5%, mas o índice se recuperou com a melhora das bolsas americanas no período da tarde, conseguindo se manter acima dos 56 mil pontos.

Na Europa, a classe política se mobilizou para garantir a estabilidade ameaçada. Mas as declarações não evitaram um dia de pânico, o que já faz a crise grega já parecer um problema menor. Os mercados ignoraram as garantias e apelos da cúpula política da Europa e Itália e Espanha voltaram a ser alvo de investidores, que colocam em dúvida a capacidade da terceira e da quarta maiores economias da zona do euro em honrar com suas dívidas.

Como resultado, as bolsas de Frankfurt e de Paris terminaram o dia com quedas de 2,3% e 1,93%, respectivamente. Investidores buscaram refúgio no ouro, que bateu mais um recorde. Londres teve a pior queda em nove meses, com 2,34%. Milão recuou 1,54% e Madri, 0,85%.

Para muitos na UE, será a defesa das economias da Espanha e da Itália que definirá o futuro do euro e do bloco. Em Roma, Bruxelas e Madri, políticos cancelaram as férias de verão para acalmar os mercados. Hoje, a Espanha tinha programado uma emissão de 3,5 bilhões. Mas, com a crise, já não há garantias de que consiga atingir o valor.

O temor entre as lideranças é de que, se Espanha ou Itália não conseguirem rolar suas dívidas, não haverá resgate internacional capaz de socorrê-las. Para o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, a tensão no mercado não se justifica. Mas ele admite que o cenário é "muito preocupante". Para dar um sinal aos mercados, Barroso mandou uma carta a todos os países da UE, pedindo que seja acelerada a aprovação do fundo de resgate do bloco, já acordado.

Em Roma, o mercado aguardava um pronunciamento do primeiro-ministro Silvio Berlusconi com novas medidas para acalmar investidores. Mas Berlusconi, sem nada para anunciar, decidiu esperar o fechamento dos mercados para apenas declarar ao Parlamento que o país "sobreviverá à crise" e as contas estão "sólidas". Mas não anunciou nenhuma nova política de austeridade nem prometeu reformas.

Se em Roma a ordem era a de declarar que o país não tem problemas, a realidade é que o ministro das Finanças, Giulio Tremonti, foi a Luxemburgo pedir ao presidente da zona do euro, Jean Claude Juncker, o apoio da UE e declarações de que a Itália não precisará de um resgate como Grécia, Portugal e Irlanda.

Na Espanha, o presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, adiou suas férias para debater com os líderes da UE o ataque que sofre Madri. Ontem, seu governo admitiu que a volatilidade vai durar ainda alguns dias e também pediu que seja acelerada a aprovação do resgate para a Grécia e o fundo europeu.

EUA. Nos Estados Unidos, um dia depois de ter sancionado o acordo do Congresso para impedir a suspensão de pagamentos, o presidente Barack Obama convocou uma reunião de gabinete para tratar da agenda pendente de estímulo ao crescimento e geração de empregos. Obama avaliou que a crise da dívida americana teve "impacto desnecessariamente negativo" na economia.

Apesar disso, depois de uma semana de queda, os mercados fecharam em alta ontem. O índice Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova York, avançou 0,25% e o Standard & Poor"s 500, 0,5%. O Nasdaq subiu 0,9%. / COLABORARAM JAMIL CHADE e DENISE CHRISPIM MARIN