Título: A internet na origem desse tsunami
Autor: Oscar, Naiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2011, Economia, p. B1

A Motorola é uma das empresas com maior tradição nas comunicações sem fio no mundo. Ainda nos anos 1930, a empresa já criava os primeiros veículos dotados da radiocomunicação com os quais a Polícia de Chicago tentava enfrentar os gângsteres de Al Capone e a máfia noutras cidades norte-americanas, nos duros tempos da Depressão.

Até os anos 1990, a Motorola disputava fatias expressivas do mercado mundial de telecomunicações, em especial, na área de telefonia móvel celular. A grande ameaça a essa empresa veio com a internet, muito mais do que com o processo de digitalização e da microeletrônica.

A internet, aliás, tem causado ao longo das últimas duas décadas a maior revolução tecnológica no mundo das comunicações, da informática e da eletrônica. Nesse aspecto, indústria de telecomunicações tem sido aquela que mais profundas transformações sofreu nestes 20 anos, em especial, em decorrência do impacto do protocolo IP (o Internet Protocol) nos sistemas de transmissão e comunicação de dados.

Foi o protocolo IP que, a rigor, mudou radicalmente o paradigma até então dominante nas centrais telefônicas e de comunicação de dados. Empresas como o Google, Yahoo, Amazon ou Facebook não existiriam sem essa tecnologia IP e sem a disseminação global da internet.

Quem poderia imaginar um sistema de armazenamento como o do Google com trilhões de páginas virtuais armazenadas em centenas de supercomputadores?

Além da onda ascensional da internet, essas mudanças criaram também as condições para a ruptura ainda mais violenta da bolha das telecomunicações, no ano 2000 - que levou de roldão gigantes como a antiga AT&T e a Nortel, entre outras. A AT&T foi reduzida a apenas uma marca famosa, que foi adquirida pela Southwestern Bell Corp. (SBC). A Lucent só foi salva pela incorporação à Alcatel. A NEC japonesa encolheu e diversificou suas atividades.

A própria Motorola vinha enfrentando dificuldades crescentes na competição mundial com gigantes que não tinham nenhuma tradição no mundo das comunicações móveis - como a Apple e o próprio Google.

O que atrai as novas megacorporações do mundo do entretenimento eletrônico e da internet é a mobilidade, num mundo que quebrará no segundo semestre deste ano a barreira dos 6 bilhões de celulares. Mais do que os simples telefones móveis do passado, eles se transformam em smartphones, com capacidade de recepção de dados, de conteúdos da web e da televisão. E, por último, os tablets, liderados pelo iPad, da Apple.

A grande força do Google nesse novo mundo da mobilidade está no sistema operacional Android, que cresce à taxa absurda de 300 mil novos celulares por dia. É provável que o mundo só tenha dois grandes sistemas operacionais para smartphones e tablets dentro de dois anos: o iOs, do iPhone, de um lado, e o Android, de outro.

A partir de agora, a Motorola passará a fornecer ao Google a capacidade de competir com a Apple, aparelho por aparelho, dispositivo por dispositivo, tablet por tablet. Será uma guerra de gigantes da era digital.