Título: Pesquisa Focus mantém aposta na estabilidade no juro
Autor: Simão, Edna
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2011, Economia, p. B5

Primeira pesquisa após a piora da nota de risco dos EUA não indica queda na taxa Selic, mesmo com o agravamento da crise

Na primeira pesquisa do Banco Central com previsões do mercado para a economia após a piora da nota de risco dos Estados Unidos, as apostas para a inflação brasileira continuaram em trajetória de queda. Mesmo com os preços em desaceleração e o agravamento da crise, a hipótese de um corte do juro brasileiro no curto prazo está, pelo menos por enquanto, fora do radar da maioria dos economistas. Prevaleceu a aposta de que o juro permanecerá em 12,5% na decisão marcada para o fim do mês e seguirá nesse nível até o fim de 2012.

Semanalmente, o Banco Central recebe previsões para vários indicadores econômicos de cerca de 80 instituições financeiras. Os números são coletados até as 17h da sexta-feira para divulgação na manhã da segunda-feira seguinte. Por isso, a pesquisa Focus divulgada na semana passada não foi influenciada pelo inédito rebaixamento da nota dos Estados Unidos anunciado pela agência Standard & Poor"s pouco depois das 21h da sexta-feira, 5 de agosto.

Após uma semana sob a nova piora do cenário, analistas reforçaram a previsão de que a inflação deve desacelerar. Essa foi a segunda pesquisa seguida de queda das projeções. A estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 6,28% para 6,26% em 2011 e de 5,27% para 5,23% em 2012. Mesmo com a queda, analistas esperam inflação acima do centro da meta seguida pelo Banco Central, que é de 4,5%.

Parada. Com preços em desaceleração, foi consolidada a previsão de que o juro não deverá sofrer alteração até o fim do próximo ano. Assim, para os economistas, o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá manter a taxa Selic nos atuais 12,5% anuais na reunião marcada para os dias 30 e 31 de agosto, o que colocaria fim no ciclo de aumento do juro iniciado em janeiro.

"A deterioração do ambiente internacional deflagrada pelo aumento da probabilidade de os EUA embarcarem em nova recessão e o risco de contágio da crise da dívida europeia em economias mais fortes como Itália, Espanha e França apontam para um efeito desinflacionário para o Brasil", explica a LCA Consultoria em relatório.

Por enquanto, prevalece a avaliação de que a estabilidade dos juros brasileiros no nível atual será suficiente como reação à piora da crise. Uma ação mais forte, no entanto, não é descartada. Para a LCA, um corte da Selic seria necessário "no caso de uma deterioração severa do cenário internacional". "A falência de um banco europeu e suas consequências sobre o mercado de crédito poderiam ser os determinantes de uma mudança na postura do BC", avalia a consultoria.