Título: Itália lança pacote de 45 bilhões de euros
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2011, Economia, p. B1

Programa de austeridade inclui cobrança de impostos sobre fortunas, privatizações e o fechamento de 1,5 mil prefeituras

Pressionada pela Europa, a Itália anunciou um novo pacote de austeridade para cortar 45,5 bilhões de gastos e, assim, evitar um contágio da crise da dívida. O programa inclui acabar com 1,5 mil prefeituras, instituir impostos sobre fortunas, fazer privatizações e terminar com feriados. Mas o projeto abriu uma grave crise política e pode ameaçar a sobrevivência do governo de Silvio Berlusconi.

A oposição já atacou o pacote, alertando que o foi uma exigência do Banco Central Europeu (BCE) para blindar nesta semana a Itália contra os ataques de investidores. O centro da polêmica é uma carta secreta enviada há uma semana por Frankfurt e que ditava cada detalhe do projeto de austeridade na Itália.

Para partidos da oposição, as exigências significaram o "fim da soberania financeira da Itália". O governo admitiu que as exigências existiram. Mas prefere ver as medidas nos próximos dois anos apenas como uma atualização do pacote aprovado em julho de cortes de 79 bilhões.

Com uma dívida de 1,9 trilhão e criticado na Europa por não agir, Berlusconi acabou aceitando a barganha com o BCE.

França e Alemanha estimavam que, se nada fosse feito, a Itália com uma dívida de 120% do Produto Interno Bruto (PIB), poderia afundar as esperanças de estabilidade para o euro e trazer o contágio da crise da dívida, que começou na Grécia, para o centro da Europa.

O objetivo do governo é alcançar um equilíbrio fiscal até o fim de 2013. Para isso, Berlusconi prevê um aumento dos impostos de 10% para pessoas com renda acima de 150 mil por ano - batizado por ele como um "imposto solidário", resultará em 8,5 bilhões para os cofres públicos em dois anos.

Os maiores afetados serão as administrações locais. Municípios e governos regionais terão de renunciar a 6 bilhões em 2012 e outros 3,5 bilhões em 2013. Para que isso ocorra, 1,5 mil prefeituras serão agrupadas. 34 províncias com menos de 300 mil residentes serão dissolvidas.

Um bilhão de euros ainda será retirado do sistema de saúde dos poderes locais. Serviços municipais serão privatizados e feriados não religiosos serão mudados para os domingos para garantir maior produtividade na economia. As aposentadorias vão perder 1 bilhão, com a idade mínima de mulheres sendo elevada para 65 anos.

Mas o projeto pode ser fatal para a sobrevivência do governo. A Liga Norte, um dos pilares da frágil sustentação de Berlusconi no poder, já anunciou que será contra a elevação da idade mínima para aposentadorias. Os principais partidos de oposição já pediam a demissão de Berlusconi. "Está na hora de ele deixar o poder", atacou Antonio Di Pietro, do movimento Itália dos Valores. O projeto ainda foi rejeitado pelas indústrias e pelos sindicatos. Berlusconi tentou se justificar. "Eu prometi nunca colocar a mão no bolso dos italianos. Mas a situação é dramática", disse. "Depois da Grécia, os especuladores haviam focado em nós."

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 13/08/2011 02:11