Título: Crise será longa, diz Mantega na Unasul
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2011, Economia, p. B7
Ministros de Economia de países sul-americanos se reuniram em Buenos Aires para discutir uma ""blindagem regional"" financeira
"Temos de nos preparar para um longo período de crise." A frase foi dita ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, aos ministros de Economia dos 12 países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), reunidos em Buenos Aires para debater a necessidade de uma "blindagem regional" financeira.
Mantega deixou claro que a América do Sul precisa estar alerta para "eventuais agravamentos da crise mundial". "Temos também de estar prontos para uma crise mais longa nos países avançados, de modo a aproveitar a situação que existe hoje nos países da América Latina."
Segundo o ministro, "a economia latino-americana é sólida porque conseguiu níveis de crescimento maior e combinou isso com solidez fiscal e monetária". "O que temos de fazer agora é fazer com que esta região continue sendo um dos polos de desenvolvimento do mundo."
Ao contrário dos países da América do Sul, "os países avançados não estão fazendo o que deveriam fazer", disse Mantega.
Para o ministro, "este é o século da América Latina". "Mas só conseguiremos fazer isso se nossas economias se integrarem mais. O Mercosul foi um primeiro passo, mas gostaríamos de integração mais ampla, com países que ainda não pertencem ao bloco." Para conseguir essa ampliação, ele defendeu "a diminuição das barreiras comerciais e financeiras que ainda existem e criar uma sinergia de tal forma que possamos enfrentar o atual momento e nos posicionemos como uma economia forte".
Decisões. Os ministros dos países da Unasul aprovaram a ampliação do Fundo Latino-americano de Reservas (FLR), mecanismo do qual o Brasil ainda não participa. Para integrar o Fundo, os países devem pagar cotas de US$ 125 milhões a US$ 500 milhões. "O FLR fará um road show e virá ao Brasil, para que vejamos quais são as condições."
No entanto, para que o Brasil ingresse no FLR, o Poder Executivo terá de encaminhar ao Congresso um pedido de entrada ao organismo. "É prematuro, temos que discutir. Mas não vejo maiores problemas, pois seria um gesto importante de integração", alegou o ministro.
Os ministros da Unasul também mostraram disposição para fortalecer a Corporação Andina de Fomento (CAF). Além disso, avaliaram o desenvolvimento do Banco do Sul. "Também foi discutida a questão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que tem dado financiamento importante para a América Latina", disse Mantega. "No entanto, ele foi desvirtuado e não é controlado pelos países latino-americanos. Ele deveria ser o fundo monetário dos países latino-americanos. Só fortaleceremos o BID se houve mudança nas cotas, na participação e na governança."
"Devemos caminhar para mecanismos mais robustos, mas vamos dar prioridade aos mecanismos já existentes. Porque se quisermos inventar a roda neste momento de agravamento da crise, não teremos tempo", afirmou Mantega ao sair da reunião.
Brasil. Sobre a possibilidade de redução da taxa de juros, o ministro disse que "é uma questão relacionada com a inflação". "Nós temos um sistema de metas de inflação que determina que a taxa de juros olhe para o resultado inflacionário. Está condicionada a isso e não a outras variáveis. É claro que podem aparecer circunstâncias favoráveis a isso. Até espero que sim, porque nossas taxas estão elevadas."
Já em relação aos gastos públicos, Mantega reiterou afirmações recentes, de manutenção de uma política de austeridade. "Continuaremos tendo nos próximos anos a conduta fiscal que tivemos neste ano. Portanto, deveremos impedir o crescimento dos gastos do setor público, que deve ser inferior ao crescimento do PIB. Isso significa uma responsabilidade fiscal para este e para os próximos anos".
Quanto às disputas comerciais envolvendo Brasil e Argentina, o ministro disse que os países não deverão permitir a "concorrência predatória". "Isso não é protecionismo", afirmou.
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