Título: Crise derruba valor dos bancos brasileiros
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2011, Economia, p. B9

Em apenas 11 dias, valor de mercado das instituições caiu 8,4% por causa da turbulência, o que equivale a uma perda de R$ 32,6 bilhões

A recente turbulência dos mercados globais já custou aos bancos brasileiros R$ 32,6 bilhões em valor de mercado na bolsa de valores. Isso significa uma queda de 8,4% em apenas 11 dias (do início do mês até a quinta-feira), revela um estudo da consultoria Economática feito a pedido do "Estado".

O movimento amplificou uma tendência que vinha desde o início do ano, apesar de os bancos brasileiros estarem muito mais saudáveis que as instituições financeiras no exterior. Em relação a 31 de dezembro de 2010, a perda de valor de mercado do setor bancário brasileiro em bolsa chega a R$ 118,7 bilhões.

A crise está castigando as ações dos bancos não só no Brasil, mas principalmente lá fora. Esses papéis se transformaram em ativos de risco, depois que se constatou a exposição dos bancos europeus a países altamente endividados e após ficar claro que os problemas dos bancos americanos não foram sanados.

"Quando se cria um ambiente de aversão ao risco, investidores institucionais reduzem sua exposição ao setor bancário de forma geral, sem considerar que a situação no Brasil é mais confortável", diz Luciana Leocádio, analista-chefe da Ativa Corretora.

As ações dos bancos brasileiros estão em queda desde o início do ano, depois que o Banco Central adotou medidas para conter o crédito, explica João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho.

No fim de 2010, o BC aumentou os depósitos compulsórios dos bancos e elevou o índice de Basileia (relação entre empréstimos e patrimônio líquido) para instituições que atuem no crédito de veículos e consignado.

A autoridade monetária também elevou os juros básicos da economia, a Selic, o que provocou um leve aumento da inadimplência. Nos balanços do segundo trimestre, os bancos registraram provisionamentos altos contra para futuros calotes.

Os analistas, no entanto, reforçam que a situação do sistema financeiro brasileiro é bastante saudável.

Bancos médios. As ações dos bancos médios sofreram as maiores perdas com a turbulência. Desde o início do mês até quinta, os papéis do Bic Banco caíram 20,2% - o porcentual mais alto do setor. O Bic Banco não deu entrevista e sua assessoria de imprensa disse que "o movimento é do mercado e não do papel".

Em seguida, as quedas mais acentuadas foram dos bancos Indusval (-16,3%) e ABC Brasil (-14,6%). "Os bancos médios estão mais expostos à crise global, porque captam boa parte do seus recursos no exterior", explica Salles. "Os bancões têm uma imensa rede de agências e conseguem captar recursos aqui."

Entre os grandes bancos, quem mais perdeu em agosto foi o Itaú Unibanco, com queda de 13,9% nas ações preferenciais e de 12,3% nas ações ordinárias. O rival Bradesco caiu 8,3%. Para um analista que preferiu não se identificar, o Itaú vem sendo "excessivamente penalizado" depois que elevou seu provisionamento para inadimplência.

No acumulado do ano, as maiores quedas foram do Banco do Nordeste (-49,7%) e do Bic Banco (-45,6%). As ações do Satander caíram 40% desde o fim de dezembro, embora tenham recuperado 7,7% este mês, na contramão do mercado. Os investidores estão preocupados com a situação do banco espanhol na matriz. Itaú, Bradesco e Santander não deram entrevista.

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