Título: Para agradar ao BCE, Itália lança pacote
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2011, Economia, p. B1

Em troca da rolagem da dívida e pressionado pelos demais líderes europeus, Berlusconi acelera medidas para reduzir déficit público italiano

Em troca da rolagem da dívida, a Itália anuncia um novo pacote de reformas e a liberalização de sua economia para tentar reduzir a pressão dos mercados e tirar o país da estagnação. A terceira maior economia do bloco surge como próxima vítima de investidores, que colocam dúvidas sobre a capacidade de Roma de honrar suas obrigações. A Itália acumula uma dívida equivalente a 120% de seu PIB, hoje a maior da Europa.

O premiê Silvio Berlusconi anunciou medidas para reduzir custos e aumentar a arrecadação para acabar com o déficit público da Itália. A meta é equilibrar o orçamento até 2013, e não mais até 2014, como planejado. Mas o objetivo é também o de tranquilizar os demais líderes europeus que pressionaram Berlusconi a anunciar a reforma. Para Bruxelas, uma crise maior na Itália ameaçaria o próprio euro.

"Há uma atenção particular da especulação internacional sobre nós e, por isso, trabalharemos rapidamente para introduzir na Constituição o princípio de equilíbrio de balanço", disse Berlusconi. Nesta semana, as ações italianas caíram 13% e o risco país bateu recorde, superando a taxa da Espanha. Ontem, os mercados reagiram indiferentes à proposta, alertando que não há nada de concreto por enquanto.

Pela nova reforma, uma lei obrigaria o Estado a caminhar em direção ao déficit zero. Outra lei ainda vai liberalizar atividades profissionais altamente reguladas. A Alemanha aplaudiu as medidas. Roma também promete acelerar os cortes nos gastos sociais, reduzir os salários de políticos e a ajuda aos partidos.

Agora, o Executivo terá de convencer o Parlamento a voltar de suas férias de verão antes do previsto. Em troca, o BCE estaria disposto a voltar a comprar títulos da dívida italiana, o que na prática representa uma sobrevida para o governo e uma forma de ganhar tempo até que uma reforma mais profunda ocorra.

Olli Rehn, comissário de Economia da UE, insistiu que nem Itália nem Espanha precisam de resgate e acusou os ataques nas bolsas de "injustificados". Mas defendeu mais recursos para o fundo. A percepção da UE é de que um fundo com 440 bilhões não tem como socorrer países como a Itália. Mas nesta semana a Alemanha deixou claro que não apoiará a ideia e atacou o presidente da UE, José Manuel Barroso, por ter feito tal proposta.

Dados. A rolagem da dívida não é o único problema da Europa. Ontem, o indicador que mais preocupou os mercados foi o da Alemanha, tida como o motor da economia europeia. Dados do Ministério da Economia alemão mostram que a produção industrial do país encolheu 1,1% em junho, revertendo a alta de 0,9% em maio. Para o governo, é um sinal de enfraquecimento na atividade industrial e nos investimentos de empresas.

O BC alemão continua apostando num crescimento de 3,1% em 2011. Mas os dados revelam que a projeção poderá ser revista. A produção de bens de capital caiu em 2%, ante queda de 4,5% na construção. O consumo também se retraiu em 1%.

Mas os alemães não são os únicos a registrar dados preocupantes. Na Suíça, a inflação perde força, numa indicação de freio na recuperação. Na Itália, o PIB cresceu apenas 0,3% no segundo trimestre e a produção industrial desacelera. Já na Espanha, a expansão do PIB foi de apenas 0,2% no segundo trimestre, abaixo da taxa do trimestre anterior. E a produção industrial também sofreu retração de 2% em junho, a pior taxa em um ano e meio.