Título: Ficar frio é o melhor negócio
Autor: Décimo, Tiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2011, Economia, p. B6

É hora é de compra, e não de venda, diz corretor

O corretor financeiro Joel Ortiz, 56 anos, circula de Scooter entre o bairro da Bela Vista, onde mora, e a avenida Paulista, onde trabalha na corretora Geração Futura. Gasta R$ 20 reais por mês de combustível. O que economiza ele aplica em ações. Seu sonho, há 40 anos trabalhando com ações, é acumular uma carteira de investimentos que lhe garanta uma aposentadoria tranquila. Nas suas contas, R$ 1 milhão resolvem.

Além de atender os clientes da corretora, Joel também faz palestras em escolas, clubes e empresas sobre o mercado de ações. "Digo sempre aos jovens que deixem de ir ao motel uma vez por mês para comprar ações", diz o corretor. "Para as mulheres, sugiro que deixem de comprar uma bolsa nova a cada 15 dias e guardem um pouco para o futuro".

Na quinta-feira, ao chegar ao escritório, Joel percebeu que o dia seria difícil. O mercado desabava na Europa e o telefone não parava de tocar. Clientes desesperados queriam resgatar o dinheiro da Bolsa, temendo a piora do mercado.

"Tentei acalmar a as pessoas e evitar o efeito manada", diz. Ele cita o caso de um cliente que tinha R$ 570 mil em ações e ligou ao perceber que já havia perdido cerca de R$ 40 mil com a queda de quase 6% na Bovespa. "Foi difícil, mas eu o convenci de que o momento de queda do mercado não é hora de sair, e sim de entrar na Bolsa". Na sexta-feira, segundo Joel, o cliente ligou para agradecer ao perceber que o pior havia passado e a Bovespa estava no "zero a zero".

"A queda atual do mercado não reflete os fundamentos da economia brasileira, pois empresas como a Vale do Rio Doce, Banco do Brasil, Companhia Siderúrgica Nacional estão baratíssimas", comenta. "A pior alternativa é entrar no estouro da boiada". Se o investidor tem dinheiro em caixa, Joel sugere aproveitar a baixa e aplicar uma parte em ações.

Quando o dia terminou, Joel divertiu-se com os amigos lembrando outros pesadelos que já viveu ao longo da carreira. Quinta-feira passou a fazer parte da lista que inclui a quebra do Lehman Brothers em 2008, a queda das Torres Gêmeas em 2001 e a recessão do fim dos anos 90. "Em momentos assim, o melhor a fazer é ficar frio, não se apavorar e aproveitar, para comprar, porque é na baixa que a gente faz grande negócios".