Título: China pede ação coordenada contra
Autor: Décimo, Tiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2011, Economia, p. B6

Com reservas de US$ 3,2 tri, as maiores do mundo, ministro chinês afirma que países devem promover reformas no sistema financeiro

O ministro das Relações Exteriores da China, Yang Jiechi, afirmou que Pequim mantém a confiança na Europa, apesar do aumento do temor de contágio da crise da dívida na região. "Nós compramos muitos bônus europeus em anos recentes e continuaremos a apoiar a Europa e o euro no futuro", disse em entrevista concedida na Polônia e reproduzida ontem no site oficial do ministério.

As declarações foram divulgadas quando os mercados da Ásia registravam fortes perdas, acompanhando a queda das Bolsas ocidentais no dia anterior.

"Os problemas da dívida da Europa ainda estão em desenvolvimento e o risco de um default da dívida soberana nos EUA está se agravando", observou o ministro, que pediu aumento da cooperação entre os governos para enfrentar a crise. "Todos os países devem intensificar a comunicação e a coordenação, promover reformas no sistema financeiro mundial e aperfeiçoar a governança da economia global." Com o maior volume de reservas internacionais do mundo -US$ 3,2 trilhões -, a China tem especial interesse em evitar turbulências no mercado internacional que levem a flutuações no valor dos bônus soberanos e à depreciação do dólar, moeda na qual estão denominados 70% de seus ativos.

Temores da China, Pequim teme ainda o impacto do aprofundamento da crise em suas exportações, cujos principais destinos são a Europa e os Estados Unidos.

O impasse em torno do aumento do teto de endividamento norte-americano evidenciou o problema enfrentado pela China na administração de um volume de reservas que supera em muito o patamar considerado necessário para proteger o país contra instabilidade externa.

O acúmulo de poupança externa transformou Pequim no principal credor de Washington, com a aquisição de pelo menos US$ 1,16 trilhão de títulos emitidos pelo Tesouro. O confronto entre republicanos e democratas aumentou a pressão para a diversificação das reservas, mas há poucas opções para aplicação dos recursos, especialmente depois do agravamento da crise europeia.

Segurança. O ministro das Relações Exteriores pediu que os norte-americanos "garantam a segurança" dos investimentos chineses em dólar. "Nós esperamos que os EUA adotem políticas monetárias responsáveis para manter a tendência de recuperação econômica global", afirmou, ecoando comentários feitos nesta semana pelo presidente do banco central, Zhou Xiaochuan. "A estabilidade do dólar como principal moeda de reserva mundial é muito significativa para a situação financeira e econômica global", acrescentou.

Diante do dilema da administração das reservas internacionais, vários economias chineses passaram a discutir medidas que permitiriam ao país reduzir o ritmo de acumulação de poupança externa.

Em artigo publicado ontem no Financial Times, o ex-membro do Comitê de Política Monetária do Banco do Povo da China Yu Yongding afirmou que a mudança no sistema de câmbio é o único caminho para a China deixar de ter um volume cada maior de reservas.