Título: Desvio de verba do Turismo beneficiou deputada do PMDB, dizem envolvidos
Autor: Colon, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2011, Nacional, p. A4

"Estado" teve acesso a depoimentos de envolvidos à Polícia Federal e pelo menos quatro deles afirmam que Fátima Pelaes recebia recursos de convênios com ONGs fantasmas

MACAPÁ (AP) - Depoimentos prestados por integrantes do esquema de desvio de dinheiro público do Ministério do Turismo que usava ONGs de fachada apontam a deputa Fátima Pelaes (PMDB-AP) como beneficiária da fraude e que os recursos desviados teriam sido utilizados na campanha eleitoral. Quatro envolvidos no caso disseram à Polícia Federal que a peemedebista recebeu parte dos recursos desviados pela quadrilha em convênios da pasta. Ela é a autora das emendas que deram origem aos contratos que estão sob suspeita. O Estado teve acesso aos depoimentos, revelados na quinta-feira, 11, com exclusividade pelo portal estadao.com.br.

Um dos depoentes, Errolflynn de Souza Paixão, repetiu, em entrevista na quinta-feira à reportagem, a mesma versão que deu à PF sobre o envolvimento da deputada. De acordo com os relatos à polícia, Fátima Pelaes teria montado uma estrutura no Amapá para levar recursos públicos para ela própria e para a campanha à sua reeleição no ano passado.

Fátima Pelaes é autora das emendas parlamentares que favoreceram o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), entidade pivô do esquema investigado pela PF. A Operação Voucher, desencadeada pela PF na terça-feira, 9, prendeu 35 pessoas, incluindo os quatro investigados que prestaram depoimentos que comprometem a deputada.

A deputada foi procurada na quinta-feira pelo Estado por telefone e no próprio gabinete. A reportagem informou o teor dos depoimentos, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.

Um dos depoimentos é de Merian Guedes de Oliveira, que aparece como secretária da Conectur, uma cooperativa fantasma do Amapá que, segundo a investigação, foi subcontratada pelo Ibrasi por R$ 250 mil e celebrou convênio com o próprio Ministério do Turismo em 2009 no valor de R$ 2,5 milhões. Merian disse que foi avisada pelo patrão e dono da Conectur, Wladimir Furtado, que a deputada Fátima Pelaes ficaria com os recursos do Turismo destinado ao Amapá. Furtado foi preso na operação.

De acordo com o relato à polícia, Merian "ficou sabendo de Wladimir que na divisão do dinheiro a deputada Fátima Pelaes ficou com maior parte do dinheiro destinado à empresa, inclusive tendo Wladimir comentado que o dinheiro destinado a empresa não seria suficiente para pagar os encargos financeiros. Que a tratativa em comento refere-se ao primeiro repasse no valor de R$ 2.5000.000,00". Esse repasse citado refere-se ao dinheiro transferido pelo Turismo para a Conectur em 2009.

No depoimento, Merian disse ainda que "ouviu de Wladimir estar preocupado de ter sido incluído pela deputada Fátima Pelaes neste esquema de desvio de dinheiro público, o que poderia culminar com a prisão de Wladimir". Merian ainda afirmou à PF que "os demais repasses de dinheiro/recurso feitos a empresa Conectur, na verdade foram desviados para a deputada Fátima Pelaes, não tendo ficado qualquer valor com a empresa ou com Wladimir". Em seu depoimento, Wladimir Furtado se identificou como "turismólogo" e disse que "nunca entregou nenhum dinheiro" à deputada.

Um sobrinho dele, David Lorrann Silva Teixeira, no entanto, confirmou a mesma versão sobre o suposto envolvimento da deputada do PMDB no esquema. Teixeira aparece na investigação como tesoureiro da Conectur. Segundo ele, "seu tio falava que ganharia 10% do total e a deputada federal Fátima Pelaes ficaria com aproximadamente R$ 500.000,00 do total". A deputada, segundo ele, tinha "pressa" para liberar os recursos.

Outro depoimento que menciona o nome da deputada foi dado por Errolflynn de Souza Paixão, que já foi sócio da Conectur. Segundo ele, "Wladimir chegou a dizer que o dinheiro seria devolvido à deputada".

Na quinta-feira, em entrevista gravada ao Estado, Paixão deu a mesma versão. "A deputada tinha pedido para ele (Wladimir) apresentar uma entidade que pudesse receber o recurso da emenda para desenvolver um trabalho de qualificação do Turismo. E ele disse: "Eu sei que a entidade pega o dinheiro e retorna para ela."

Outra depoente, Hellen Luana Barbosa da Silva, afirmou aos policiais que "a deputada Fátima Pelaes indicou o Ibrasi para receber parte do dinheiro para financiar sua campanha à reeleição".