Título: França e Alemanha expõem divergência
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2011, Economia, p. B1

Sarkozy anuncia convocação de reunião com Merkel e gabinete alemão reage irritado, pois o encontro já estaria marcado há três semanas

CORRESPONDENTE / GENEBRA

Governos europeus tiveram mais um dia de demonstração de sua impotência em resolver a crise. Numa tentativa de surpreender os mercados, o presidente francês Nicolas Sarkozy anunciou que convocou a chanceler alemã Angela Merkel para uma cúpula na próxima terça-feira em Paris.

O objetivo do encontro seria a apresentação de novas propostas para que a Europa supere sua pior crise desde a criação do euro. Mas a reunião de cúpula, antes mesmo de ocorrer, já azedou a relação entre as duas maiores economias da Europa.

A iniciativa de Sarkozy surgia como uma demonstração de que os líderes europeus finalmente entenderam a gravidade da crise e iriam acabar com suas férias para chegar a um novo acordo.

Mas o governo francês foi rapidamente desmentido pelos alemães, que demonstraram irritação com a notícia. O gabinete de Angela Merkel alertou que a reunião já estava programada há três semanas e a atitude de Sarkozy estava fazendo desmoronar a estratégia de Berlim de evitar o pânico.

Berlim alertou que não era hora de transformar essas cúpulas em atos de campanha eleitoral. Merkel, porém, desembarcará em Paris com a notícia de que é mais popular na França que o próprio presidente local. Uma pesquisa publicada ontem pela Harris indicou que 33% dos franceses acreditam que Sarkozy tem as respostas para a crise. Já 45% dos franceses colocam sua confiança na chanceler alemã.

Diferenças. O mal-estar entre os dois governos é, na realidade, um espelho das diferenças de ponto de vista sobre como a crise deve ser tratada. Merkel e Sarkozy, líderes dos países que são considerados os pilares da União Europeia, vão debater formas de fortalecer a administração da zona do euro.

Na reunião, Berlim deverá apresentar sua proposta de punir governos do continente que não tenham suas contas em ordem. Outra proposta que Merkel levará ao encontro é a de que todos os países que usem a moeda única tenham em sua Constituição a obrigação de zerar seus déficits.

Mas o que Merkel não aceita é a utilização do Banco Central Europeu para a compra de títulos de países em crise, como vem ocorrendo com Espanha, Itália, Portugal, Irlanda e Grécia. A chanceler da Alemanha também rejeita qualquer proposta de aumentar o fundo de resgate da União Europeia, que hoje tem 440 bilhões.

Itália. Outra frustração veio da Itália ontem. O governo de Silvio Berlusconi havia prometido que iria ao Parlamento apresentar as bases para um novo pacote de austeridade, já que os cortes anunciados em julho de 70 bilhões não foram considerados suficientes.

Mas o ministro de Finanças, Giulio Tremonti, se limitou a indicar que as medidas vão na direção de aumentar impostos para os mais ricos e de elevar a idade mínima de aposentadoria. Sem dar detalhes nem apresentar o projeto.

A atitude dos governos europeus tem deixado o setor privado irritado. Andreas Schmitz, presidente da poderosa Associação de Bancos Alemães, declarou ontem que "a Europa está sem liderança". "As pessoas das quais dependemos para fazer as coisas avançarem não têm a coragem de tomar decisões", alertou o banqueiro.