Título: Mantega faz cara de paisagem para a bolsa
Autor: Fernandes, Adriana ; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2011, Economia, p. B6

Gesto, cheio de ironia, foi em resposta às críticas feitas ao pacote cambial

Com gestos teatrais e um boa dose de ironia explícita, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez ontem, literalmente, "cara de paisagem". A cara foi uma resposta às críticas dos dirigentes da BM&FBovespa ao pacote de medidas cambiais anunciado há duas semanas.

Ao chegar ao ministério, o Estado pediu ao ministro que comentasse as críticas feitas na quarta-feira por Edemir Pinto, presidente da bolsa. Ele disse que a equipe econômica estava fazendo "cara de paisagem" para as preocupações do mercado em relação às medidas cambiais que atingiram o segmento de derivativos.

Diante da pergunta, o ministro interrompeu a entrevista que estava concedendo e entrou no elevador do prédio. Mas, logo em seguida, surpreendeu os repórteres: o ministro saiu do elevador, voltou à portaria e colocou os óculos escuros no rosto para fazer cara de paisagem. Parado e sem tecer comentários, Mantega foi questionado sobre se aquela era a "cara de paisagem". O ministro se limitou a ajustar ainda mais os óculos. E voltou para o elevador.

A zombaria do ministro explicitou a queda de braço que se instalou nos bastidores entre a equipe econômica e os dirigentes da bolsa por conta do pacote que dá ao Conselho Monetário Nacional (CMN) poderes de intervenção no mercado de derivativos. Enquanto novas medidas para esse mercado são dadas como certas na área técnica da Fazenda, os dirigentes da bolsa e da Febraban pressionam o governo para que recue da decisão de tributar com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) as posições líquidas vendidas de câmbio. Mas o ministro, por ora, fechou a porta para negociações de mudanças relevantes.

O clima deve esquentar nas próximas semanas, quando será regulamentada a atuação do CMN na supervisão do mercado futuro de câmbio. O governo avalia que é preciso proteger o real e fazer ainda mais, adotando até ações drásticas, como limitar diretamente as apostas no mercado futuro.