Título: Analistas preveem pouso suave na China
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2011, Economia, p. B1

Com economia nessa rota, demanda por commodities pode desacelerar, mas ainda assim garantir mercado para as exportações brasileiras

CORRESPONDENTE / PEQUIM

A China vai desacelerar nos próximos meses, mas manterá um ritmo de crescimento próximo dos dois dígitos, o que coloca a segunda maior economia do mundo na rota de um "pouso suave", afirmam analistas ouvidos pelo "Estado".

Apesar de esperarem baixo ritmo de expansão no mundo desenvolvido, nenhum deles acredita num cenário de novo mergulho na recessão, o qual fatalmente tornaria mais pessimistas as projeções para o país asiático.

Mesmo com a esperada redução da velocidade, a maioria dos analistas vê um cenário positivo para a demanda chinesa de commodities, que poderá ter alguma desaceleração, mas estará longe de entrar em colapso.

Para o Brasil, esse é o principal fator que vai influenciar o comportamento das exportações e da balança comercial: a China é o maior destino dos embarques nacionais e o maior comprador de minério de ferro e soja, primeiro e terceiro colocados na pauta de vendas do País ao exterior.

Com exponencial aumento de suas compras ao longo dos últimos seis anos, a China se tornou um dos principais atores no mercado de commodities e o aumento ou queda de suas importações pode definir a cotação internacional desses produtos. Segundo a equipe de Hong Kong do Royal Bank of Canada, a China respondeu em 2010 por 60% da demanda global de minério de ferro. No caso da soja, o porcentual foi de 58%.

O mais pessimista entre os analistas ouvidos pelo Estado é Dong Tao, economista-chefe para a Ásia (menos Japão) do Credit Suisse, que prevê crescimento para a China de 8,7% em 2011 e de 8,5% no próximo ano. Esse cenário descarta o "duplo mergulho" no mundo rico - que estaria em uma "recuperação frágil".

Os 8,7% representam uma desaceleração significativa em relação aos 10,3% registrados em 2010, mas ainda bem acima dos 6% a 7% que poderiam ser considerados como "pouso forçado".

Dong observa que a demanda chinesa por commodities está em queda desde o início do ano e deverá manter essa tendência nos próximos meses. Mas ele ressalta que o movimento não será "drástico".

Entre os mais otimistas está Brian Jackson, analista de mercados emergentes da Ásia do Royal Bank of Canada, que espera expansão da China de 9,5% em 2011 e 2012, em projeções que consideram "crescimento modesto" na Europa e nos Estados Unidos. "Haverá desaceleração no segundo semestre, mas os números relativos à atividade econômica continuam bastante fortes." Segundo ele, essa perda de fôlego poderá reduzir a demanda por commodities, mas ligeiramente.

"Ainda há fatores domésticos significativos para sustentar o crescimento, como investimentos em infraestrutura e o programa de construção de casas populares", afirma. O governo chinês pretende entregar 36 milhões de moradias de baixo custo no período entre 2011 e 2015, o que dará impulso à produção e estimulará a procura de produtos como aço, do qual o minério de ferro é a principal matéria-prima.

Solução caseira. A forte atividade no setor imobiliário é uma das razões que sustentam as previsões de crescimento de 9,3% em 2011 e de 9% em 2012 feitas por Wang Tao, economista-chefe do banco UBS na China. "Apesar das medidas de aperto, a venda e a construção de imóveis se mantêm resilientes e o avanço da construção de casas populares dará suporte adicional."

Wang não espera queda na demanda por commodities, mas também não acredita na repetição do grande aumento registrado em 2009. Naquela época, as importações de produtos como minério de ferro e cobre subiram em razão do megapacote de estímulo lançado pelas autoridades de Pequim em resposta à crise global iniciada em 2008.

É pouco provável que o país adote medidas de proporção semelhante agora, em razão da explosão de financiamento dos últimos dois anos. Mas, caso o cenário global se deteriore, o governo ainda tem espaço para adotar medidas expansionistas de caráter fiscal, acredita Dong Tao.

Zhang Lei, analista da Minsheng Securities em Xangai, está no grupo dos otimistas e espera que a expansão fique em 9,2% no fim do ano. "Como o crescimento da China não vai desacelerar rapidamente, a demanda por commodities como o minério do Brasil continuará a crescer."

TIGRE CHINÊS

Cenário A previsão é de que a economia da China desacelere, mas mantenha o crescimento perto de dois dígitos

Demanda A China é o maior destino das exportações brasileiras de minério de ferro e soja. Segundo os especialistas, a demanda por esses produtos vem caindo desde o início do ano e essa tendência deve ser mantida nos próximos meses. Mas a percepção é de que esse movimento não será "drástico"

Obras Investimento em infraestrutura e a forte atividade do setor imobiliário devem garantir as previsões